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Armindo Santos, um polícia que é fotógrafo amador de corridas

O título é este, mas podia ser ao contrário: um fotógrafo amador de corridas que por acaso também é polícia.

Talvez essa formulação alternativa fosse mais justa para a dedicação e empenho que este nosso amigo coloca na arte de proporcionar alegrias a centenas e centenas de atletas (a esmagadora maioria também amadores de todos os escalões).

No mundo das corridas (quase) todos o conhecem. Armindo Santos é aquela figura simpática que se esconde por detrás de uma máquina fotográfica e que se dedica de corpo e alma a captar os atletas antes, durante e depois de inúmeras provas de atletismo.

As pessoas passam por Armindo e fazem poses, alguns atrasam o passo quando o vêem, outros fazem questão de o cumprimentar e ir ao seu encontro. “Por vezes fico algo assustado, porque tomo contacto com o carinho que as pessoas me dedicam e fico preocupado de poder não estar à altura das suas expectativas… Fico mesmo ansioso”.

Aos 56 anos, este agente da PSP (a prestar serviço na Polícia Municipal de Lisboa) regista à volta de seis corridas por mês. Mas em Dezembro, por exemplo, as corridas São Silvestre fazem disparar essa contagem. Armindo vai a todas!

No princípio, quem corria era ele

“Comecei a praticar atletismo na Serra da Arrábida em 85, quando o Carlos Lopes brilhava por esse mundo fora”, conta-nos o nosso amigo, que nos recebe em casa. Corria de manhã e à noite, para ocupar o seu tempo extra, fora do horário de trabalho. Começou a ser convidado para provas e nos anos 90 já treinava imenso, com uma média de 500/600 km por mês. “Cheguei a fazer tempos interessantes, de 1h10min na meia-maratona e 2h36 na maratona. No entanto, era um atleta medíocre, que não me chegava para ficar nos 100 primeiros”.

Já no fim dos anos 90, deixou de ter condições para treinos bi-diários: “Tive os meus filhos, comecei a dedicar-me mais ao lar e a ter menos espírito de sacrifício para estas aventuras”. Mas a paixão manteve-se: “Vivi intensamente o mundo do atletismo e fiquei fascinado com a abnegação das pessoas. Incuti o meu gosto pela corrida na minha família. Desde a mais pequena, com 6 anos, ao meu filho mais velho, com 21, e à minha mulher, todos corremos!”.

A ligação à Federação da Família para a Paz Mundial e Unificação (que o público reconhecerá na sigla “Run 4 FFWPU”) surge aos 19 anos, quando Armindo toma contacto com “os princípios universais como conduta indispensável ao indivíduo e para a construção da família”. “Todo o meu ser é expressão desses valores”, resume.

Já sem correr, fotografa os que correm

“Comecei por impulso. Sentia um desejo muito grande de fazer algo útil e apaixonante. À medida que ia tendo o feedback das pessoas ia-me entusiasmando e alimentando da alegria que sentiam pelo meu trabalho. Comecei a conhecer mais gente e a querer proporcionar estes momentos”, conta entusiasmado.

Já o testemunhámos em diversos eventos e podemos garantir que Armindo fotografa todos os intervenientes: não só os atletas, mas também os técnicos, o staff da organização, os outros fotógrafos… A sua objectiva capta tudo no universo da corrida. “A reciprocidade, a acção de dar e receber é essencial. As pessoas gostam de se ver a si próprias nestas aventuras das corridas, sentem-se gratas e agradecem-me. E eu fico felicíssimo por poder proporcionar-lhes isso. Respeito todos os que se dedicam a fotografar a natureza, mas para mim o divino está nas pessoas. Esse é o meu foco”.

No fundo, o que acontece é isto: os participantes fazem a prova, vão para casa e esperam que Armindo descarregue as fotos e as publique no Facebook. Depois, é só procurar a sua bela figura no meio de centenas.

Percebemos facilmente a seriedade com que encara esta espécie de missão e passatempo ao percorrer a sua página naquela rede social, onde por vezes lemos sobre as posições em que se coloca para obter a melhor perspectiva e sobre aquele momento perfeito em que o disparo da máquina fotográfica capta a emoção na cara do atleta.

Para terminar, perguntamos-lhe porque é que a corrida amadora tem tantos entusiastas. Responde-nos que “O sofrimento traz alegria. Ir mais além, experimentar a superação de si próprio, alcançar um bem-estar que eleva o nosso estado de espírito. São valores que nos enriquecem: a determinação, a força, a resistência… Penso que é por isto que tantos e tantas correm hoje em dia”.

Obrigado, Armindo! Encontramo-nos na próxima linha de partida!

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3 Comments

  1. É um grande ser humano acima de tudo que zela pelo bem estar de todos…um enorme coração…um excelente profissional…um ” irmão ” com uma ética rara hoje em dia. Faz falta ao Mundo mais Armindos?

  2. Ao amigo Armindo Santos o nosso obrigado pela sua dedicação ao atletismo amador e aos momentos que capta para mais tarde todos recordarmos.
    Pessoa humilde e com um coração enorme, um amigo do seu amigo, um exemplo.
    Em nome da equipa Ao Ritmo das 200ppm, agradeço a atenção que sempre nos dá, a troco de um mero sorriso.
    Esta notícia é uma singela e merecida homenagem ao Armindo Santos,
    Bem hajam!

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