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Regimento quer plataforma de apoio a catástrofres

A Escola do Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa, situada na zona Oriental de Lisboa, quer ampliar as suas instalações. Para isso, apresentou um projecto à autarquia e aguarda que o terreno contíguo lhe seja cedido. Quem não ficou satisfeito com a intenção foram os muitos moradores que naquele terreno tinham as suas hortas.

O Tenente Coronel Nisa Pato confirmou ao EXPRESSO do Oriente as intenções do Regimento de Sapadores de Bombeiros de no terreno já vedado “melhorarmos as nossas instalações para formação e criar naquele espaço uma plataforma logística para no caso de haver uma catástrofre termos uma rápida capacidade de resposta”. O terreno encontra-se numa zona privilegiada da cidade pela proximidade ao aeroporto. Esta plataforma de apoio a catástrofres, preparada para receber apoios vindos do estrangeiro, é um projecto antigo do Regimento que por enquanto não passa disso mesmo. No entanto, para o responsável, “esta é uma infra-estrutura que faz falta à cidade. Como capital de um país devíamos ter uma plataforma deste género”.
O sonho do comando do Regimento é antigo, “mas para se chegar à realidade ainda demorará algum tempo. Por outro lado, é preciso ter em conta a zona onde se poderá construir que será mesmo junto à estrada, uma vez que no resto do terreno não se pode fazê-lo devido à linha de água”.
As construções necessárias ao projecto estão a ser analisadas pela Câmara de Lisboa, sendo certo que na zona onde não é possível edificar ficará reservada a uma área de treino, uma vez que segundo o Tenente Coronel Nisa Pato, só no ano passado passaram pela escola de formação cerca de 1500 bombeiros, pelo que as actuais instalações já se tornam pequenas. O diálogo com a autarquia tem sido constante, garante o Tenente Coronel com consciência de que não é possível construir “onde queremos e como queremos. Temos conversado com o pelouro dos Espaços Verdes da Câmara no sentido de ser estabelecido um enquadramento arquitectónico em toda a área”.

Na busca de um bocadinho de terra

Quem não compreende o impasse na realização da obras são os moradores da zona que usavam o terreno para cultivo. No entanto, há mais de ano receberam um aviso de que deveriam retirar as hortas daquele espaço, porque as obras começariam no dia seguinte. Entretanto, contam, “os anos passam, o terreno está vedado e nós ficámos sem as nossas hortas que tanto jeito davam”. João Dias, 67 anos, mora nos Olivais e há mais de 20 que se desloca todos os dias a Marvila para tomar conta dos seus pequenos espaços de cultivo. Foi com desgosto que viu a sua maior horta desaparecer de um dia para o outro.
A arte do cultivo herdou-a da sua terra natal, a Régua, de onde retirava o sustento da terra: “Esta é uma forma de matar saudades. Sinto- me em casa, perto daquilo de que mais gosto. Para além disso mantenho-me ocupado, evitando outros caminhos…” Quando soube que teria de deixar aquele terreno tentou de imediato encontrar outro espaço. Hoje tem vários terrenos, todos pequenos, onde cultiva batatas, ervilhas e favas. Foi limpando as terras que estavam sujas, acabou por cultivar e tira dali o sustento para si, para a sua família e amigos. No entanto, não esconde a revolta de ver todo o terreno, que em tempos estava cheio de cultivo, abandonado: “Disseram que era para os Bombeiros ampliarem as suas instalações, mas até hoje….”
Também o marido de Lucília Loureiro, 63 anos, perdeu o bocadinho de terra que tinha para cultivar as suas hortaliças, “que tanto jeito davam”. “Tivemos esta horta mais de dez anos. Tinha batatas o ano todo e feijão verde. Poupava muito dinheiro”. Hoje, dizem os moradores, “até dá dó olhar para o terreno vedado e cheio de ferro velho”.
A ocupação de Lucília e do marido acabou de um dia para o outro, “até porque não conseguimos encontrar outro bocadinho de terreno disponível. É pena”.

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