Cultura

Exposição “Outras Lembranças, Outros Enredos” em Lisboa

Exposição abre diálogo sobre a relação entre Brasil e Portugal

No âmbito do Bicentenário da Independência do Brasil, curadores reúnem mais de 200 obras icónicas da Colecção Teixeira de Freitas para estimular a multiplicidade de pontos de vista sobre o passado e o futuro.

Entre os dias 16 de Novembro e 18 de Dezembro Lisboa recebe “Outras Lembranças, Outros Enredos”, uma exposição que estimula a construção de novos diálogos e pontos de vista para pensar a relação histórica e contemporânea entre Brasil e Portugal. Por ocasião do Bicentenário da Independência do Brasil, os curadores Bernardo Mosqueira e Luiza Teixeira de Freitas apresentam uma narrativa, a partir da Coleção Teixeira de Freitas, que reúne mais de 200 obras icónicas, na Cordoaria Nacional, feitas por mais de 150 artistas de todo o mundo. Esta é uma iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, aberta ao público, com entrada livre.

Com um olhar sensível às temáticas que envolvem Brasil e Portugal, a exposição é dividida em cinco leituras transversais: “Outras Lembranças, Outros Enredos” (que dá nome à exposição); “Tramas, Distâncias, Abismos”; “Ruínaconstrução”; “Estudos sobre a Liberdade” e “Língua: Poesia, Metamorfose, Apoteose”. Cada momento propõe entrelaçamentos entre diferentes perspectivas sobre o passado, visando estimular os visitantes a desenvolverem novas formas de imaginar e construir o futuro.

Com mais de 200 obras de contextos políticos, económicos e sociais distintos, esta é a primeira vez que a colecção será apresentada de uma forma tão completa em Portugal, contando com artistas como Dalton Paula (Brasil), Ana Vieira (Portugal), Mona Hatoum (Palestina), Damián Ortega  (México), Geta Bratescu (Roménia) e Carla Zaccagnini (Argentina), entre tantos outros.

Para o curador Bernardo Mosqueira, que usa a arte como ferramenta para criar diálogos em diferentes esferas, a exposição é intensa, extensa, diversa e generosa, não impondo uma leitura única nem linear e, por isso, abre espaço para múltiplas conversas. “É uma exposição que visa inspirar reflexões sobre as nossas responsabilidades individuais e coletivas em relação à história e, também, à construção de novos futuros e outras formas de viver coletivamente”, ressalta o curador brasileiro, que se divide entre Nova York, onde trabalha no New Museum, e o Rio de Janeiro, onde dirige o Solar dos Abacaxis.

Outro aspecto distintivo de “Outras Lembranças, Outros Enredos” é contar com uma Coleção que foi construída a partir da ideia de Arquitetura. Daí existirem muitas obras que se relacionam com projectos, técnicas e materiais utilizados no processo de erguer edificações, assim como obras conceptualmente ligadas a ideias de construção e desconstrução.

Luiza Teixeira de Freitas explica que o grande desafio foi criar um novo olhar sobre a Colecção Teixeira de Freitas, uma forma inédita de se aproximar deste acervo. “Desenvolver este trabalho está a ser muito estimulante, sobretudo, por criar uma conexão espacial entre os cinco eixos temáticos e o contexto da Cordoaria Nacional, com toda a memória que este edifício carrega da história de Lisboa, já que neste lugar se produziam as cordas dos navios portugueses que transformaram a face do mundo”, destaca a curadora que já colaborou com a Tate Modern e divide o seu tempo entre América, Europa e Médio Oriente.

Cinco momentos da exposição

“Outras Lembranças, Outros Enredos”

Nesta parte da exposição, a intenção é gerar novas solidariedades e uma esfera pública mais plural e intercultural. Os visitantes têm a oportunidade de criar relações com diferentes narrativas e formas de contar, para que, ao tecer distintos passados, possamos transformar as maneiras de imaginar os futuros.

“Tramas, Distâncias, Abismos”

Se o núcleo anterior tratava do entrelaçamento de múltiplas lembranças na elástica dimensão temporal, esta segunda parte convida a um estudo das questões de tramas, distâncias, e abismos, como forma de nutrir reflexões sobre o Atlântico.

“Ruínaconstrução”

O título deste terceiro núcleo, reúne as palavras “ruína” e “construção”, numa mesma expressão. Neste momento, são agrupados trabalhos que, por lidarem com fragmentos do mundo, se tornam imagens duplamente dialógicas ao oferecer intercessões potentes entre o que “já foi” e o que “está para ser”.

“Estudos sobre a Liberdade”

Este quarto momento da exposição reúne obras de artistas de diversas partes do mundo, que tratam de movimentos individuais, colectivos e comunitários. São trabalhos nos quais o entrelaçamento entre vida e aprendizagem abrem caminhos para a renegociação do comum.

“Língua: Poesia, Metamorfose, Apoteose”

A quinta e última parte desta exposição trata da língua e espaço, entendendo a língua como dimensão vigorosa e potente, sempre transformando e sendo transformada pelas formas de viver, pensar e imaginar dos povos que a utilizam.

Bernardo Mosqueira é um curador e escritor brasileiro, baseado em Nova Iork e Rio de Janeiro. Mestre em Estudos Curatoriais pelo Center for Curatorial Studies, Bard College, é o director artístico do Solar dos Abacaxis desde 2015, como também do ISLAA Curatorial Fellow no New Museum e diretor do Prémio FOCO ArtRio há uma década. As suas exposições recentes incluem: “The Shadow of Spring”, New Museum, Nova York , (2022); “Eros Rising: Visions of the Erotic in Latin American Art”, Institute for Studies on Latin American Art, Nova York (2022); “Screens Series: Naomi Rincón Gallardo”, New Museum, Nova York, (2022) e “Daniel Lie: Unnamed Entities”, New Museum, Nova York, (2022).

Luiza Teixeira de Freitas é curadora independente que vive em Lisboa e trabalha com projectos em São Paulo, Nova Iorque, Londres, Los Angeles e Médio Oriente.  Actua em curadoria com colecções privadas, exposições e feiras de arte, assim como publicações independentes e livros de artista, tendo lançado a sua própria editora Taffimai. Luiza já fez parte da equipa curatorial da Bienal Anozero, em Coimbra, e colaborou com a Tate Modern, de Londres. É também consultora de estratégia da Delfina Foundation, em Londres, do Conselho de Administração da Bidoun e Presidente da Operação Nariz Vermelho, em Portugal. As suas exposições recentes incluem: “Se erguendo tenda, onde entrem todos”, Centro de Arte Quetzal, Vidigueira (2021); “Um galo sozinho não tece uma manhã”, Centro de Arte Quetzal, Vidigueira (2021) e “Shell Game Andreia Santana e Anna-Sophie Berger”.

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