Cultura

Catarina Gomes vence Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís

Com o romance original “Terrinhas”, Catarina Gomes, sagrou-se vencedora da 14ª edição do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, por unanimidade do Júri, presidido por Guilherme d’Oliveira Martins. Em homenagem à grande escritora, o Prémio, no valor de 10 mil euros, foi instituído, pela primeira vez, em 2008, pela Estoril Sol, no quadro das comemorações do cinquentenário da Empresa.

Ao eleger “Terrinhas”, o júri considerou tratar-se de “um romance que, a partir do ponto de vista de uma mulher tipicamente citadina, coloca em confronto o mundo rural e o mundo urbano. A memória dos pais, que quase religiosamente vão à terra para trazer batatas, as quais invadem a cozinha e o imaginário da narradora, fornece a visão irónica e, por vezes, mesmo hilariante, com que esta avalia a infância e enfrenta dores e dramas da idade adulta. A alegria e a comovente ternura na avaliação da vida e da morte, associadas a uma escrita fluida e elegante, dão a este romance, um indiscutível alcance literário, que importa valorizar e divulgar.

Pode ler-se na sinopse do romance “Terrinhas”: “O que raio é uma bouça? Um lameiro? Um corgo? Quantos nomes pode ter uma terra, além de terreno ou lote de terreno?”. É com perplexidade que Cláudia M. Mendes, designer de interiores, se vê, de um dia para o outro, herdeira de umas nesgas de terra na aldeia da avó, de onde todos os verões a família voltava com o tejadilho do carro cheio de batatas. Forçada a voltar ao sítio onde era obrigada a passar férias, Cláudia vê-se no meio do campo a tentar chegar a terras que não vêm nem em mapas nem em GPS. Seguindo uma estranha trama de linhas desenhadas a calhaus e cruzes, abre-se entre Cláudia e a aldeia de Arrô uma nova e forçada ligação.

Segundo Catarina Gomes: “A ideia para o romance “Terrinhas” nasce de uma herança verdadeira. Há uns anos, vieram parar-me às mãos um conjunto de terras numa aldeia do Norte de Portugal que, para mim, eram apenas nomes estranhos. Nunca as tinha pisado e nem sabia o que fazer para lá ir dar. Eram terras que me chegavam de um tempo em que a terra era tudo, mas que agora pouco valiam, eram terras como as que aparecem nos noticiários de Verão sobre incêndios, de quem já ninguém cuida e que acabam por arder sozinhas. Há uma geração de portugueses com origens rurais que já herdou ou vai herdar terras como as de Cláudia e para quem elas já não representam quase nada. Das histórias das terras que herdei não descobri grande coisa, o que aconteceu foi pôr-me a imaginar o que lá se podia ter passado na altura em que terra era sinónimo de vida. Imaginava como aquelas terrinhas um dia tinham sido amealhadas, disputadas, amadas. Assim nasceu Cláudia, Arrô e a sua avó Adozinda”.

Catarina Gomes explica ainda que “escrever um romance era um sonho tão antigo que quase não tem idade, parece que me acompanhou toda a minha vida adulta. Sou jornalista há mais de 20 anos e o que tentei fazer nos últimos anos da minha prática profissional foi aproximar-me da ficção. Nos três livros de jornalismo literário que escrevi conto histórias de vida verdadeiras como se escrevesse um romance”.

Numa retrospectiva sobre o seu percurso literário, Catarina Gomes revela: “Em “Pai, tiveste medo” (edições Matéria-Prima, 2014) abordo a forma como a experiência da Guerra Colonial foi contada em casa e de que maneira chegou à geração dos portugueses filhos de ex combatentes. Em ”Furriel não é Nome de Pai” (Tinta da china, 2018) conto, pela primeira vez, a história dos filhos que os militares tiveram com mulheres africanas e que deixaram para trás. “Coisas de Loucos-O que eles deixaram no manicómio” ( Tinta da china, 2020) teve origem na descoberta acidental de uma caixa de cartão cheia de objectos de antigos doentes no primeiro hospital psiquiátrico português, o Miguel Bombarda. Este livro, onde conto a vida de oito antigos doentes a partir dos seus pertences abandonados, resultou de uma bolsa de investigação jornalística atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian. As três obras foram incluídas no Plano Nacional de Leitura”.

A autora do romance vencedor do Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, Catarina Gomes, nasceu em Lisboa, em 1975. Jornalista do Público durante quase 20 anos, as suas reportagens receberam alguns dos prémios mais importantes da área, como o Prémio Gazeta (multimédia). Foi duas vezes finalista do Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez e recebeu o Prémio Internacional de Jornalismo Rei de Espanha. Os seus trabalhos de jornalismo literário mais significativos encontram se no site Vidas Particulares .

O Júri que atribuiu o Prémio, além de Guilherme D`Oliveira Martins, que presidiu, em representação do CNC – Centro Nacional de Cultura, integrou José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores; Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas; Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários; e, ainda, Maria Alzira Seixo, José Carlos de Vasconcelos e Liberto Cruz, convidados a título individual e Dinis de Abreu, em representação da Estoril Sol.

Recorde-se que, o Regulamento do Prémio Revelação, que deixou de fixar, em 2016, um limite de idade para os concorrentes, manteve, contudo, a exigência de serem autores portugueses,” sem qualquer obra publicada no género”. A iniciativa conta, desde o primeiro momento, com o apoio da Editorial Gradiva, que assegura a edição da obra vencedora, através de um Protocolo com a Estoril Sol.

Ver mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Close