Reportagem

Uma mochila cheia de medalhas

Chama-se Paulo Soares, mas todos o conhecem por “Zico”. Esta máquina de ganhar medalhas é de Marvila e teve um ano espectacular!

Foi nas instalações do CF Chelas que conhecemos o atleta que há nove anos começou a praticar jiu-jitsu brasileiro. Com uma voz calma e segura, com uma pose relaxada e com as medalhas ainda escondidas, não diríamos que Paulo Soares seria o lutador que o seu currículo apresenta.

Mas os troféus dourados que mais tarde vai exibir nas mãos e as cicatrizes que carrega no rosto provam que “Zico” também sabe ser duro e que vai suportar todos os golpes até ganhar os seus combates.

Recentemente graduado em faixa marrom, a faixa antes da preta, o nosso amigo dedicou-se mais a sério à competição em 2016 e 2017. O esforço valeu-lhe os títulos de campeão europeu em Barcelona, de vice-campeão em Las Vegas e a vitória no Grand Slam Abu Dhabi em Londres. Tudo isto nos últimos quatro/cinco meses. O mais recente foi o de Las Vegas, bem fresquinho: realizou-se entre 20 e 24 de Agosto.

A preparação e a dedicação é a mesma para todos os torneios e “todas medalhas são  importantes”, mas estas três têm um sabor especial e é por isso que as trouxe para nos mostrar. Quando perguntamos quantas tem lá em casa, responde que tem guardada uma mochila cheia de medalhas! “São cerca de 50… Os meus filhos adoram, é uma guerra para saberem quem é que fica com esta ou aquela”, conta, divertido.

Condutor de pesados de segunda a sexta, campeão nos ringues ao fim-de-semana

Trabalhador como qualquer outro, Paulo Soares tem um emprego e um horário full-time que tem de conciliar com os treinos diários. Na verdade, poucos diriam ao vê-lo que é condutor de pesados de passageiros.

“Tento descansar o máximo de horas possível, para aguentar os treinos de preparação física ou jiu-jitsu. No mínimo, faço treinos de 1 hora e meia por dia. É preciso muita força de vontade”, reconhece.

Questionado sobre o ponto alto da sua carreira, elege o Abu Dhabi Grand Slam, em Londres, e conta-nos a história: “Tinha feito vários opens e estava muito cansado. Parti um dedo do pé e comecei a ver a minha vida a andar para trás. Disse a mim próprio: «Não vou desistir, vou lutar até ao fim». Os médicos disseram que tinha de parar três a quatro semanas e ficaram de boca aberta quando eu disse que tinha voo marcado para essa quinta-feira e tinha um grand slam no fim-de-semana. Lutei com um adversário que já conhecia na minha primeira luta, fiquei a coxear, fui aconselhado a pôr muito gelo e a isolar melhor o pé. Ganhei a segunda luta, a terceira luta e quando cheguei à final já ia numa de vida ou morte. Aguentei as dores horríveis, acabei por ganhar o torneio e ninguém conseguiu fazer ponto contra mim. Foi uma vitória de perseverança!”.

Por outro lado, também identifica claramente um ponto baixo… Na altura em que “ainda não tinha a noção do que era a alta competição”, foi para um torneio em Madrid mal preparado tecnicamente e fisicamente. “Quando dei por mim, a um dia da prova estava com 6 kg a mais. Tive de perder esses 6 kg em apenas um dia e fui muito debilitado, porque praticamente não comi nem bebi. Perdi a primeira luta, tive uma cãibra na segunda luta e fui desclassificado. Mas aprendi com o erro: comecei a preparar-me muito bem, a ter atenção ao meu corpo e a focar-me nos meus objectivos”.

Foco, equilíbrio, perseverança

Para Paulo Soares, o jiu-jitsu tem características especiais que o diferenciam de outros desportos. “Destaco os benefícios para a pessoa, as mudanças no carácter, acima de tudo o equilíbrio e a preparação para a vida. Ensinou-me a ser perseverante, foi importante porque tive batalhas muito duras, pessoalmente e desportivamente. O jiu-jitsu ajuda-me no meu dia-a-dia, no meu trabalho, a não cometer erros, a chegar a horas, a estar concentrado. O rótulo de lutador pode levar as pessoas a julgar os atletas como agressivos e isso raramente é verdade. Jiu-jitsu é a chamada «arte suave», não é violência. É disciplina, foco, equilíbrio”.

O atleta nasceu em Lisboa e é marvilense de gema. A ligação ao CF Chelas surgiu após “algumas desilusões com outras pessoas que disseram que me apoiavam e depois falharam com a sua palavra. O Telmo [presidente da direcção do clube] ouviu o meu descontentamento e ofereceu-se logo para me ajudar”.

Além do apoio do CF Chelas, Zico tem contado com outros apoios entre o comércio local: Jardim da Roupa, Estrela Car e Solar do Peixe. O lutador aproveita para agradecer a estas entidades e ainda à Time Body e à Spartacus Academy, onde é acompanhado pelo professor Fábio Pires.

Desejamos ainda mais êxitos desportivos a este vencedor nato. Quantas mais medalhas caberão na mochila que tem lá em casa?

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