Reportagem

Jornadas Europeias do Património: como são ricas as nossas estações!

No âmbito das Jornadas Europeias do Património (JEP) 2019, o Metro, a CP e a IP abriram as suas portas para convidar o público a visitar o seu espólio e a deixar-se surpreender.

Chega a ser estranho como é possível passarmos por determinado sítio muitas vezes sem que paremos para contemplar, por exemplo, as obras de arte que decoram as paredes. É o que acontece em muitas estações da rede do Metropolitano de Lisboa, em particular aquela que visitámos no primeiro dia das JEP 2019.

Fomos até à estação dos Restauradores, onde participámos na primeira actividade de um programa vasto de iniciativas culturais dirigidas ao público: uma visita guiada àquela estação, bem como à gare do Rossio, minutos depois.

As JEP são uma iniciativa promovida pela Comissão Europeia a que vários países, incluindo Portugal, têm aderido, neste caso através da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Com o tema “Artes, Património e Lazer”, aplicado a Portugal este ano, as JEP decorreram nos dias 27, 28 e 29 de Setembro, contando com um número significativo de aficionados que não perderam tempo a inscrever-se assim que as vagas abriram.

Helena Taborda, porta-voz do Metropolitano de Lisboa, destaca a variedade das iniciativas disponíveis este ano, no programa conjunto delineado pelo Metro, pela CP e pela Infraestruturas de Portugal: “O público tem ao seu dispor um conjunto de visitas guiadas, viagens, animação, uma conferência, sem esquecer a oportunidade de viajar nas carruagens clássicas n.º 1 e n.º 2, que datam de 1959. As carruagens ML7 remontam à origem do próprio Metropolitano de Lisboa, encontram-se completamente remodeladas e não se encontram em circulação a não ser em ocasiões especiais”. A responsável revelou ainda que “todas as iniciativas esgotaram pouco tempo depois de abertas as inscrições, o que demonstra o interesse das pessoas nestas acções. O Metropolitano de Lisboa é um museu difuso e aberto que as pessoas valorizam”.

Da “Achança” de Luiz Ventura aos azulejos de Nadir Afonso

Na estação dos Restauradores, a nossa visita guiada prendeu-se sobretudo nas obras de arte que adornam as paredes do átrio Norte e do cais de embarque. No primeiro ponto de paragem, um magnífico painel intitulado “Brasil-Portugal: 500 anos – A Chegança”, de Luiz Ventura, foi o centro das atenções.

A obra pintada em esmalte vitrificável sobre material cerâmico, na estação desde 1994, foi visitada por Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil, por ocasião dos 500 anos da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. O painel foi cedido pelo metro de São Paulo ao de Lisboa, tendo as obras de David de Almeida “As vias da Água” e “As vias do Céu” feito a viagem inversa.

Já na zona do cais projectado por Keil do Amaral, inicialmente com uma extensão de apenas 30 metros (depois sucessivamente ampliado), dominam os trabalhos de Nadir Afonso, manipulando as formas das cidades de Nova Iorque, Londres, Paris, Madrid, Rio de Janeiro ou Moscovo. Estão lá desde 1995.

A Gare do Rossio, que não faz sentido no centro de Lisboa

Dali ao cais da estação ferroviária do Rossio é um pulinho… na verdadeira acepção do termo, já que para lá chegar é preciso subir dois lances de escadas rolantes. Afinal de contas, talvez não faça muito sentido projectar uma gare central de uma grande metrópole onde há pouco espaço para linhas de comboio, carruagens, manobras e tudo o mais.

Depois de cruzarmos o Hotel Avenida Palace, que foi feito literalmente “paredes-meias” com a estação, observamos a fachada que combina elementos manuelinos com a temática da ferrovia. Falta lá a estátua do rei D. Sebastião, que alguém derrubou há pouco tempo, mas ainda lá estão os arcos de ferradura, os pináculos, as janelas e as figuras do rei D. Luís I, em cima e, em baixo, do engenheiro George Stephenson, inventor da locomotiva, e de Fontes Pereira de Melo, que introduziu os caminhos-de-ferro Portugal.

A estação ferroviária do Rossio nasceu com muitas novidades à data da inauguração, ainda no século XIX, em 1888-1890. Além do ascensor hidráulico, das salas de espera e dos comboios específicos, a nova estação apresentava – e apresenta – um túnel, o maior da rede ferroviária nacional, que foi aberto à picareta a partir de um lado e do outro. O Túnel do Rossio assegurava a ligação à estação de Campolide, que havia de crescer tudo o que o Rossio não podia crescer. Os comboios a vapor obrigaram à construção de máquinas para escoamento do fumo dentro do túnel e foi implementado um sistema de mudança de agulhas que nunca falhou: nunca houve um acidente dentro do Túnel do Rossio!

No cais de embarque, em ambos os lados, há 14 painéis de azulejos: do lado esquerdo para quem se volta para as linhas, mostram-se os azulejos de Lima de Freitas, focados nas lendas de Lisboa (e um extra sobre Luís de Camões); do lado direito, estão os do parisiense Lucien Donnat, mais antigos, tendo como tema produtos portugueses, como a sardinha, o vinho, a cortiça…

Pusemos um ponto final à nossa visita com a performance de dança protagonizada pelos bailarinos do Quorum Ballet, ali mesmo, que reuniu muito público em trânsito de quase-hora-de-ponta.

Agora que as apreciámos, podemos concluir… como são ricas as nossas estações!

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