Reportagem

Chá Gordo na Casa de Macau

Antecipando em alguns dias a chegada do Natal, a Casa de Macau organizou o tradicional Chá Gordo, reunindo a comunidade de associados, familiares e ami gos para um grande convívio em torno de uma mesa farta.

Cerca de 90 pessoas não quiseram faltar a esta oportunidade de degustar os pratos típicos da gastronomia macaense, e assim matar as saudades daquele território onde os portugueses mantiveram uma presença de séculos.

O Chá Gordo de Natal é uma das actividades mais participadas no âmbito das iniciativas da Casa de Macau, ou não fosse o paladar uma das formas mais “saborosas” de preservar memórias de tempos passados.

Na grande mesa disposta no centro da sala, eram muitos os pratos devidamente identificados, incluindo doces e salgados, para todos os gostos.

Para os leigos, muitos deles seriam indecifráveis: ló pak kou; siu mai; há kao; wo tie; apabico; chu cheong fan; ló mai chi; cha siu pai… E a lista continua. Outros, com palavras familiares, despertam a curiosidade, como “massa larga com carne de vaca”.

As conversas animadas emprestavam um ambiente familiar a esta reunião de pessoas que partilham em comum uma ligação afectiva a Macau: uns porque passaram por este longínquo território na Ásia, outros porque lá estiveram em missão e por lá casaram e, para outros, outras variadas razões, certamente.

De Macau para estudar em Portugal

Um conjunto de estudantes macaenses destacava-se dos demais, e o EXPRESSO do Oriente não perdeu a oportunidade de trocar dois dedos de conversa com duas representantes deste grupo.

Rita Cheang e Luísa Lou, com 18 e 20 anos, estão há poucos meses em Portugal. Vieram de Macau para estudar Direito no nosso país, acolhidas no seio de famílias portuguesas.

“Gosto muito de Portugal. As pessoas são muito simpáticas”, afirma Rita. “Tem sido muito bom, estou a gostar muito de viver com uma família portuguesa, todas as pessoas são muito simpáticas”, confirma Luísa.

Explicam-nos que por enquanto decorre o “ano zero”, em que aprendem a língua portuguesa. Segue-se o curso de Direito, igualmente em Portugal.

As duas amigas que não têm qualquer ascendência portuguesa já se conheciam, eram colegas de escola em Macau, e não são as únicas a fazer este percurso: só este ano, referem um número de algumas centenas de estudantes macaenses em Portugal, sobretudo presentes na Universidade Católica Portuguesa.

“Normalmente, os portugueses pensam que não falamos nenhum português e apenas nos falam em inglês, mas depois respondemos em português e ficam surpreendidos”, nota Rita Cheang.

Luísa Lou acrescenta: “Ficam muito curiosos sobre as diferenças entre a cultura portuguesa e a chinesa, fazem muitas perguntas sobre a vida em Macau”. E elas gostam desse intercâmbio e de retorquir com perguntas sobre a vida em Portugal e na Europa.

De volta à gastronomia

Mas porque o “prato forte” do Chá Gordo é mesmo a gastronomia, procuramos entre os presentes uma senhora que é especialista nesta matéria. Diana Inês Gomes Vidal Guerra, macaense radicada em Águeda há longos anos, está a preparar um livro sobre a cozinha macaense, baseada no conhecimento que adquiriu da avó, que por sua vez também aprendeu da avó dela. Filha de pai português e de mãe chinesa, de Cantão, casou com um português de Águeda, e ali abriu o primeiro restaurante chinês da cidade: “Macau Exótico”.

“A comida macaense vai buscar muitas coisas à base da comida portuguesa, enriquecida pelos condimentos que os portugueses traziam de muitos pontos das suas viagens e que reflectem o seu contacto com outras culturas”, explica Diana.

“É uma comida muito exótica, uma misturada de muitas coisas”, afirma, rindo-se. “Os portugueses, com muitas saudades da gastronomia tipicamente portuguesa, reproduziam os pratos com os ingredientes que encontravam disponíveis em Macau. O cozido à portuguesa feito com carnes secas da China e tempero à chinesa, com peles fumadas, por exemplo”.

É um gosto ouvir a nossa amiga falar. Numa sequência encadeada ao sabor do que lhe vem à memória, explica-nos como se faz a “capela”, prato típico de Macau, pobre por fora e rico por dentro, os coscorões torcidos que em Macau são diferentes de Portugal, as empadas e fartes.

A grã-emissária da Confraria de Gastronomia Macaense sugere-nos outros doces, como a batatada, feita com batata doce e leite de côco, ou o pudim de manga, a imitar outros países asiáticos com manga em abundância, e mousses variadas. E lembra-se do tempo em que a avó fazia xarope de folha de nogueira, que “faz muito bem aos pulmões, misturado com água, e que também evita a absorção dos raios ultra-violeta pelo nosso organismo”.

Terminamos a nossa carne minchi, ou seja, carne picada com batata frita pequenina e ovo estrelado a acompanhar, e provamos ainda um delicioso caril de peixe com gambas, acompanhado de arroz basmati. Ficamos convencidos! Uma delícia!

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