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Entrevista a João Torga, presidente do Oriental

Aos 74 anos, João Torga está pela terceira vez ao leme do Clube Oriental de Lisboa, para o triénio 2017-2020. Líder da única lista que se apresentou a votos após a demissão da anterior direcção, João Torga assume ao nosso Jornal a ambição do regresso à II Liga e apresenta os projectos para o clu be.

Como descreve este desafio que se coloca de dirigir novamente o Clube Oriental de Lisboa (COL)?

Já é a terceira vez que estou como presidente do Oriental. Estive em 1982-84, depois em 86-88 e voltei agora porque o presidente em exercício renunciou e os outros elementos da direcção também pediram a demissão. Algumas pessoas falaram comigo, convidaram-me a aceitar este cargo e cá estou pela terceira vez.

Motivado, adicionando esta característica especial de regressar a um cargo que já ocupou?

Sim, porque isto é uma questão de paixão, de clubismo. Estava muito longe de imaginar esta situação, mas estava-se a cair num vazio, não havia direcção e…

Foi também um certo sentido de responsabilidade.

Sim, sem dúvida.

Falando então de paixão e de clubismo, como começa a sua ligação ao Oriental?

Começa porque sou desta zona, mais propriamente do Beato. Desde muito novo que estou ligado ao Oriental. O meu pai trabalhou durante muitos anos na secção náutica do COL, tive outros familiares a trabalhar no clube e estou desde muito novo inserido nesta família. Na minha vida de adulto, tomei a responsabilidade dos veteranos e posteriormente, também numa altura de vazio directivo, assumi a presidência.

Desportista?

Só de bancada. Sempre estive ligado ao desporto, mas mais na parte directiva e de organização. Nunca calcei as chuteiras nem pratiquei modalidade nenhuma, apesar de estar no Oriental desde os meus 20 e tal anos.

Pensando na modalidade do futebol, é duro competir no Campeonato de Portugal?

É, porque temos um problema grande. A tendência dos clubes, devido às dificuldades que sentem no seu dia-a-dia, é de terem parceiros investidores. O nosso ADN não permite isso. Como não temos ninguém a pôr cá dinheiro, trabalhamos de acordo com a nossa realidade, competindo com clubes com muito mais dinheiro que nós e com jogadores mais caros. Gastamos pouco e bem, tentando com menos fazer o melhor.

Qual é o lugar natural de um clube com a envergadura do Oriental?

Pelo contexto histórico, o lugar seria a II Liga.

É essa a ambição do clube?

Sim, nem podia ser doutra forma. Estamos [no momento desta entrevista] a três pontos do 2.º lugar. Os três melhores segundos têm possibilidade de subir, vamos ver como as coisas correm!

Vem aí Lisboa – Capital Europeia do Desporto 2021 e o Oriental é um clube com mais de uma dezena de modalidades. Qual é a importância desta efeméride?

Tivemos algumas reuniões com a Câmara Municipal de Lisboa em relação ao evento. Estamos a negociar um direito de superfície junto ao nosso campo, para fazermos um novo campo sintético e procurar dar vazão à procura que temos. Marvila é a segunda freguesia de Lisboa em termos populacionais e há muita gente a procurar-nos para praticar desporto. Infelizmente, só temos um campo sintético – e é pequeno. Tentamos agora, aproveitando este grande evento na cidade de Lisboa, ver se conseguimos fazer um segundo campo sintético. As coisas parecem estar bem encaminhadas.

Como vê a actualidade da prática desportiva em Lisboa?

Como dizia, estamos numa zona com forte presença de população e sentimos que não temos estrutura para dar resposta àquilo que as pessoas procuram. Há muita gente a querer praticar desporto, o que é óptimo!

Quais são as modalidades com maior procura?

O futebol, o futsal, o andebol…

E onde é que o Oriental é mais forte?

Será no futebol e no triatlo, mas com uma cultura de bom desempenho desportivo em todas as modalidades, desde logo o andebol, o voleibol, o basquetebol, o pólo aquático, a marcha e a corrida, a natação, a ginástica, o kickboxe. Estamos também a lançar uma iniciativa no mini-basquete.

Pode explicar-nos os detalhes desta última?

É um projecto dirigido aos mais novos, para alunos do 1.º ciclo, ou seja, até ao 4.º ano. Está sediado na Escola Básica dos Lóios. Funciona nas instalações da escola, depois de as aulas terminarem. Fornecemos o material para a prática do desporto, incluindo as camisolas do Oriental, e promovemos mini-torneios para fomentar o interesse e o gosto pelo basquetebol, mais focados na experimentação que na vertente competitiva.

Se lhe pedíssemos para eleger os melhores momentos da sua ligação ao Oriental, quais seriam?

As subidas de divisão, porque é o que nos marca mais como adeptos, como associados: os títulos e o engrandecimento do clube no nível desportivo. Tenho um grande orgulho no espírito que se vive neste clube. O trabalho em equipa que envolve jogadores, treinadores, corpo médico, funcionários, dirigentes e todos os intervenientes é fantástico. É quase uma família! Outra grande satisfação que temos é que o Oriental é um clube sem dívidas. Além da dívida flutuante, não devemos a ninguém. Não temos os passivos astronómicos que se vêem noutros lados.

Alguma história que recorde neste âmbito?

Acaba por ser também uma história muito positiva. Na primeira vez que estive na direcção, estivemos na iminência de descer para as distritais, mas em 7 jogos, ganhámos uns 6 e conseguimos não descer. O apoio da massa associativa foi fundamental. Este é um clube com muita história: um 5.º lugar na 1.ª divisão, sete presenças na elite do futebol profissional, foi campeão da 2.ª divisão…

O que é que o Oriental precisa de fazer para ir buscar mais adeptos, para se assumir verdadeiramente como o clube que representa a população da zona oriental de Lisboa?

Somos o quarto maior clube de Lisboa. Acredito que, conseguindo o tal terceiro campo, encostado ao Eng. Carlos Salema, teremos condições para melhor desenvolver a formação e dar resposta à intensa procura da população por oferta desportiva. Será por aí.

Outros projectos na manga?

Também gostaríamos de oferecer aos nossos associados uma cobertura para os proteger da chuva.

Para finalizar, a sua família era mais Marvilense, Chelas ou Fósforos? [os três clubes que deram origem ao COL]

Era mais Marvilense, especialmente o meu pai. Garantido é que somos todos Oriental. Na minha família tenho cinco associados do Oriental: eu, as minhas duas filhas e os meus dois netos, sócios desde o dia em que nasceram.

O seu número de sócio?

121!

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