Reportagem

Farmácia Banha: um século de história!

Bem no centro de Moscavide, encontramos uma farmácia especial que já lá está há 100 anos. A Farmácia Banha permanece fiel ao espírito do fundador, o trisavô José Francisco Banha.

Foi em 1917 que José Francisco instalou a Farmácia Banha em Moscavide. 100 anos depois, o negócio continua nas mãos da família: a neta Maria Fernanda Fontes é a directora técnica, com 85 anos, e a nova geração está já assegurada, através da trineta Teresa Fontes Leal.

Mas o que tem esta farmácia de especial? Foi isso que quisemos saber, sentando-nos à conversa com as duas farmacêuticas, avó e neta, que nos contaram um pouco da história da casa.

A história começa quando José Francisco Banha, natural de Estremoz, funda o estabelecimento em Moscavide a 17 de Julho de 1917. Não foi a primeira Farmácia Banha: antes da de Moscavide, abriu uma em Chelas, e antes dessa havia uma na Graça, que pertencia ao seu tio, também ele farmacêutico.

José Francisco Banha esteve pouco tempo à frente dos destinos daquilo que fundou: faleceu vítima de tuberculose em 1926 e foi a filha, Natália, que assumiu o negócio. Natália casaria dois anos depois com Francisco Duarte, jovem técnico de farmácia, funcionário da casa. E foi da união deste casal, acarinhado por todos, que nasceu Maria Fernanda, a simpática senhora com quem conversamos!

Referência na “aldeia” que é Moscavide

“O meu pai era muito querido por todos em Moscavide, ainda hoje muita gente se lembra dele”, conta-nos orgulhosa a proprietária, que recebeu em 2014 a Medalha de Honra do Concelho de Loures. “Era uma pessoa fantástica! Chamavam-lhe senhor Duarte e procuravam-no muito, até porque Moscavide sempre teve um pouco de aldeia, com características de comunidade pequena. Toda a gente se conhece e fala”.

Perguntamos pela história que lemos no Facebook, das guloseimas e do chafariz. Maria Fernanda sorri e recomeça o relato: “Aqui em frente, havia um chafariz muito bonito, daqueles antigos, grandes. Os miúdos brincavam muito ali, eu incluída, porque era muito vadia… E vinham muitos pedir rebuçados ao meu pai, que nunca se distribui-los, mas com a condição de lavarem a cara, o ranho e a sujidade, no chafariz. Só depois é que lhes dava os rebuçados!”.

Maria Fernanda assumiu a direcção técnica da Farmácia em 1953, seguindo as pegadas familiares. Perguntamos-lhe pelo seu dia-a-dia: chega à Farmácia cerca do meio-dia e por vezes fica até altas horas da madrugada! “Gosto de saber tudo o que se passa, mas não preciso de controlar tudo porque as coisas estão em boas mãos, sobretudo aqui com a ajuda da minha neta, que é muito boa naquilo que faz”.

Sobre o centenário da casa, nota que “100 anos sempre na mesma família é importante. Porque 100 anos passam, quer queiramos quer não. Mas na mesma família não é nada fácil nem habitual!”. E brinca: “A Teresa será entrevistada um dia para os 150 anos da Farmácia. Eu hei-de estar lá no outro mundo a pensar que ela fez um trabalho melhor que o meu, com certeza”.

Quanto ao que o futuro guarda, Maria Fernanda confessa que “gostava que a Farmácia se mantivesse com este ambiente que tem hoje. Não quero que tenha ar de perfumaria ou de algo que não é. É uma farmácia, é acolhedora, é de confiança, e gostava que continuasse assim”.

A neta acena com a cabeça, como que concordando com a visão da avó, e explica-nos que a festa dos 100 anos, marcada para 17 de Julho, inclui o descerramento de uma placa comemorativa, bolo de aniversário e acções de divulgação no próprio dia.

“Temos tido muita sorte porque os clientes gostam de nós. Temos de agradecer o carinho de todos os nossos clientes e a dedicação dos nossos colaboradores, que integraram muito bem no espírito do negócio que o meu trisavô idealizou”, completa Teresa Leal, que depois nos guia por um pequeno passeio pelos “arquivos” da casa.

Encontramos armários e estantes repletos de frascos mais antigos que a Sé de Braga, contendo nomes do mais complicado possível, tais como sulfanilamida, sulfureto de antimónio, tintura de grindélia ou extracto fluido de condurango. Há que notar que a Farmácia Banha sempre fabricou os seus próprios medicamentos manipulados. A propósito disso, encontramos também equipamentos variados para o fabrico, desde as balanças a uma máquina Hotte antiga que já está fora de serviço, convertida em autêntica peça de museu.

Resta-nos dar os parabéns à Farmácia Banha. Lá estaremos para ajudar a soprar as velas!

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