Desporto

Conversa debate o Desporto como transformador de percursos de vida

A Casa de Castro Daire em Lisboa promoveu mais uma conversa temática na sua sede, desta vez debatendo com especialistas o Desporto como transformador de percursos de vida.

Com moderação da experiente jornalista Cecília Carmo, um autêntico ícone do Desporto da RTP durante largos anos (ligada também ao mais recente Canal 11 da Federação Portuguesa de Futebol), o painel de convidados tinha muito para partilhar acerca do tema em cima da mesa.

O atleta paralímpico Jorge Pina, fundador da associação com o seu nome, partilhou a sua visão sobre a importância da transmissão de valores através do Desporto, com o objectivo de resgatar crianças e jovens de comportamentos de risco em bairros que apelidou de “complicados”. O antigo pugilista, que perdeu a quase totalidade da visão já adulto, foi mesmo ao ponto de afirmar: “Só abri os olhos quando fiquei cego porque só aí é que comecei a olhar para o meu próximo, as pessoas que me rodeiam e a lutar por um mundo melhor”. “Prefiro treinar um campeão para a vida do que para ganhar medalhas”, afirmou num outro momento.

A experiência com crianças e jovens de bairros de habitação social foi também partilhada por Paulo Fernandes, um treinador e formador que, na sua prática comum, começa sempre por falar sobre hábitos de higiene e saúde, antes de partir para as regras do Desporto propriamente dito. “Muitos destes miúdos não se lavam convenientemente e têm lacunas graves que são prévias à competição e aos objectivos do jogo”, referiu o treinador, ligado ao Câmara Lisboa Clube e a projectos em bairros como o da Boavista e Chelas. Paulo Fernandes foi crítico da forma como alguns agentes perdem a confiança da juventude neste tipo de bairros, ao assumir uma postura impositiva e insensível à sua realidade.

Catarina Campos e Jorge Pina

Ricardo Freitas de Sousa é outro agente cujo trabalho não está ligado à competição desportiva, mas transforma percursos de vida através do Desporto: trabalha junto de reclusos (Lisboa, Alcoentre, Vale de Judeus…), com um projecto que alia o Desporto e a Matemática à inclusão social. O também dirigente associativo pegou nestas duas disciplinas que o fascinam e lhe dão prazer e tem percorrido os estabelecimentos penitenciários, contribuindo para a inclusão social dos reclusos, através de exercícios que conjugam as duas áreas. Quem diria que é possível aplicar o conceito de hipotenusa num pátio de uma prisão?

Paulo Fernandes, Ricardo Sousa e Cecília Carmo

Falta referir a árbitra de futebol Catarina Campos, com insígnias FIFA, inscrita na AF Lisboa há mais de uma década, que também partilhou a sua visão sobre a pedagogia e a educação para os valores que são inerentes à função de árbitro. Respondendo a uma simpática provocação da moderadora, a também ex-jogadora de futebol esclareceu que nunca tinha mostrado um cartão branco a um atleta (aquele cartão que em vez de punir, serve para premiar o fair-play), mas que tal se deve ao facto de normalmente não arbitrar competições em que esse cartão novo esteja previsto nos regulamentos. O exemplo recente de um jogo de futsal entre Benfica e Sporting, em que um cartão branco foi exibido a um atleta para premiar a sua atitude, foi apontado como muito positivo para sensibilizar a sociedade (atletas, treinadores, dirigentes, pais, adeptos em geral) para a importância da ética no Desporto.

Perante uma plateia que, além de populares, contava com atletas, dirigentes associativos e até deputados à Assembleia da República, a conversa seguiu num tom informal e provou uma vez mais o dinamismo da Casa de Castro Daire em Lisboa.

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