Reportagem

Jogar jogos de tabuleiro… a noite toda!

resized_Board Games Olivais (1)Chama-se “A noite mais curta mais longa de jogos” e põe dezenas de pessoas a jogar pela noite fora. São aficionados dos jogos de tabuleiro e ficam a jogar até ver o sol nascer!

Já há dois anos que é assim: no solstício de Verão, aquela que é a noite mais curta do ano (do pôr do sol ao nascer do sol), os aficionados dos jogos de tabuleiro reúnem-se para… jogar.

O Espaço da Juventude da Junta de Freguesia dos Olivais é o palco da iniciativa em Lisboa e a comunidade internacional faz o mesmo noutras cidades. Tiago Duarte e Hélio Andrade, dois dos responsáveis pelo grupo de boardgamers de Lisboa, explicam que a ideia até surgiu na cidade espanhola de Córdoba, e daí se estendeu para outros lugares.

Mal chegamos ao Espaço da Juventude, deparamo-nos com um conjunto de mesas repletas de cartas, de pequenas figuras, de peões, de objectos indetermináveis e de tabuleiros das mais variadas formas… Tudo características indecifráveis para quem não conhece os jogos em questão. E somos imediatamente convidados a sentar para jogar um jogo, mesmo que tenhamos de aprender tudo do princípio. Nuno Carreira, jogador regular nos eventos semanais do Espaço da Juventude (sempre ao sábado), apresenta-nos meia dúzia de jogos e convence-nos a experimentar um deles.

A ideia é mesmo essa: qualquer pessoa que chegue a um evento destes poder envolver-se e participar, até para tomar o gosto pelos jogos de tabuleiro menos difundidos no consumo de massas.

“Temos jogos para todas as idades, apesar de o target ser acima dos 14/15 anos. Mas há jogos para crianças, todas as pessoas são bem-vindas aqui. Já chegámos a ter crianças com 4 e 5 anos”, conta Tiago Duarte. E completa: “a nossa ludoteca conta com cerca de 100 jogos, sem contar com os que os jogadores trazem consigo. Normalmente quando organizamos um evento destes pedimos jogos às distribuidoras, que têm interesse em fazer divulgação…”.

Oresized_Board Games Olivais (3) cidadão comum não conhece a grande maioria dos jogos que encontramos nesta nossa visita. Não vamos ver por aqui o Monopólio, o Cluedo ou o Risco… Este é um facto que se explica pelo próprio funcionamento da indústria.

“Em média, 30 e tal pessoas chegam ao fim, com o nascer do sol, por volta das 6h da manhã. E aí saímos sempre para o exterior para tirar a foto da praxe”, explica Tiago Duarte.

E o que têm a dizer os responsáveis sobre a cultura de videojogos e sobre as horas passadas em frente ao computador? Hélio Andrade revela que “há muitos indicadores a sugerir que está a mudar o paradigma, ou seja, os jogos de vídeo já estão a decair. Vemos muitas notícias que indicam que as pessoas estão à procura de alternativas, como são os jogos de tabuleiro, e há muitas personalidades a apoiar este hábito. Os jogos de tabuleiro já não são uma coisa só de nerds. Cada vez há uma adesão maior”.

resized_IMG_1854Tiago Duarte destaca a vantagem da socialização: “Qualquer pessoa, de forma isolada, pega numa consola de jogos e joga. Nos jogos de tabuleiro, embora tal também seja possível, a ideia é jogar com outras pessoas, implica contacto e socialização”.

Outra desvantagem dos jogos informáticos é o custo e a relação com a longevidade, conforme acrescenta Hélio Andrade: “Normalmente um jogo de topo custa bom dinheiro e acaba por ser rapidamente ultrapassado no espaço de um ou dois anos. E nessa altura se calhar nunca mais pegamos nele. Um jogo de tabuleiro acaba por ser jogado repetidamente, mas torna-se diferente dependendo das pessoas com quem jogamos e das estratégias que usamos, nunca fica velho. E quando quisermos vendê-lo, ele retém muito valor de mercado. Não se pode vender um Fifa três ou quatro anos depois ao mesmo preço a que o comprámos!”.

Ainda jogamos um joguinho mas… não vamos ficar até ao nascer do sol. Talvez para o ano!

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