Reportagem

“Reparar” nos idosos

Os idosos têm cada vez mais uma vida isolada em habitações sem condições e com pouco conforto, preocupada com este retrato de exclusão social e vulnerabilidade a SCML decidiu intervir de modo a “garantir que as pessoas idosas possam usufruir da chamada terceira idade com qualidade e de uma forma digna, activa, participada e incluída”.
A casa de Rosa da Conceição Novais, de 85 anos, na Freguesia de São João, é uma das 26 habitações que foram sujeitas a intervenção ao abrigo do projecto “Reparar” promovido pela SCML. Durante esta acção participaram cerca de 250 voluntários, a maioria sem experiência na área de reparações domésticas, que deram tudo por tudo para tornar estas casas um pouco mais confortáveis. Coisas tão simples como arranjar uma torneira, uma tomada ou mesmo pintar uma parede, mas que fazem toda a diferença para estes idosos. “Fiquei tão contente quando vi o que fizeram. Não sabia de nada disto, fui para um convívio da SCML
e quando voltei estava tudo melhor do que estava”.
Na casa de Rosa Novais, os voluntários pintaram um dos quartos, a cozinha e a sala, onde também montaram um móvel novo. “É muito bonito, só é pena porque perdi arrumação, porque o antigo móvel servia para arrumar as roupas e agora tenho tudo em malas”. Mesmo assim garante que “tenho uma casa para toda a minha vida”.

Vive sozinha em Lisboa há mais de 30 anos, nunca se casou e não tem filhos. Empenhou-se no seu trabalho de empregada doméstica e foi juntado dinheiro para comprar a casa em que vive actualmente. “Posso orgulhar- me de ter conseguido o meu cantinho, apesar de ter nascido pobre”. Os dias passa-os na maioria sozinha, outras vezes põe a conversa em dia com as vizinhas do lado, mas pouco mais. Antigamente ainda recebia a visita dos irmãos e sobrinhos, mas com o tempo deixaram de aparecer “vivem longe e por isso nem sempre cá vêm”. Os parcos 250 euros que recebe de reforma nunca dariam para fazer reparações em casa. “Sabe, o dinheiro mal chega para comida, medicamentos e fraldas, fica complicado estar a arranjar o que quer que seja”. Agora só deseja ter mais saúde para poder viver mais um tempo e desfrutar desta “nova” casa, tão acolhedora. O enorme sucesso deste projecto leva a SCML a ponderar iniciar uma segunda fase do projecto “Reparar”.

Sabia que:
Esta iniciativa, que surge no âmbito do Ano Europeu do Voluntariado, interveio com 250 voluntários nas freguesias de São João, Sé, Santa Catarina, Socorro, Anjos, São Jorge de Arroios, Coração de Jesus, Prazeres, Santo Condestável e Alcântara numa operação que durou mais de 4 mil horas e que custou mais de 100 mil euros pagos pelas empresas apoiantes. A estes voluntários juntaramse ainda 30 arquitectos.
Um estudo em que a SCML participou e onde foram inquiridos 293 residentes de Lisboa, com cerca de 69 anos, indica que:
– A maioria das pessoas idosas vive na mesma casa há mais de 30 anos;
– 65% dos inquiridos gostaria de poder fazer obras na sua residência;
– 29% considera o estado geral de conservação da casa como a principal razão para insatisfação com a sua situação de vida;
– 26% referiram que gostariam de ficar a viver na sua casa desde que fossem efetuadas reparações quando questionados sobre os seus projetos de futuro em relação à habitação;
– 59% da população idosa que reside sozinha vive uma realidade de total isolamento diário, seja porque as barreiras arquitetónicas e/ou a sua condição de saúde são obstáculos à sua mobilidade, seja porque não possuem qualquer rede de suporte familiar ou social (vizinhos ou amigos).
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) aliou-se a nove empresas para testar uma nova forma de voluntariado empresarial. O projecto “Reparar” consiste em promover pequenos arranjos em casas de idosos carenciados.

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