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“Os Dias de Marvila” espalharam cultura pelo território

Com epicentro na Biblioteca Municipal de Marvila, “Os Dias de Marvila” levaram teatro, dança, música, exposições, conferências e muito mais a diversos pontos da cidade.

Começou a 5 de Outubro e só terminou no dia 16. O vasto programa de “Os Dias de Marvila”, este ano na sua segunda edição, ofereceu gratuitamente ao público uma panóplia de escolhas para mergulhar no meio artístico e deixar-se desafiar por dezenas de artistas a fervilhar de ideias.

O EXPRESSO do Oriente acompanhou bem de perto esta iniciativa, marcando presença em vários momentos da programação, e testemunhou a forma como os artistas convidados interpelaram o público das mais diversas maneiras, aproveitando esta montra especial para se dar a conhecer fora dos seus círculos habituais.

“Os Dias de Marvila” estiveram integrados no ROCK – Regeneration and Optimization of Cultural Heritage in Creative and Knowledge Cities, um projecto europeu co-financiado pelo programa Horizonte 2020, que pretende promover a regeneração da zona ribeirinha do Beato-Marvila e estabelecer a sua ligação ao centro histórico de Lisboa. O projecto liga várias cidades europeias e privilegia a coesão territorial e social local.

Logo na primeira sexta-feira do evento, assistimos a “Adriano Já Não Mora Aqui”, uma encenação de Rui Catalão centrada na experiência de vida do jovem Adriano Diouf, trazida ao palco da Casa dos Direitos Sociais. A performance do único actor em cena, Adriano, falada, dançada, cantada, prendeu os espectadores do princípio ao fim, num discurso na primeira pessoa que evocou memórias, traumas e alegrias de uma vida difícil.

Também nos cativou “A Nossa Cara não é Estranha”, uma exposição fotográfica da Casa de São Vicente, que se dedica a apoiar pessoas portadoras de deficiência. As paredes da Biblioteca de Marvila exibiram retratos em que os utentes da Casa reproduziam modelos mais ou menos conhecidos, desde uma camponesa de outros tempos ao odiado Adolf Hitler.

Foi também na Biblioteca que assistimos ao concerto dos rappers V1ruz e Rato, (ou “Mouse”), dois artistas locais cujas memórias e experiências da adolescência em Chelas povoam o seu verso musical. Ali aconteceram muitas outras actividades, como um outro concerto de música coral, videomapping e instalações pela mão do Agrupamento de Escolas D. Dinis, debates sobre a interacção entre o bairro e o exterior e outras conferências, um workshop de danças espanholas e várias encenações teatrais.

O programa incluiu ainda visitas guiadas ao património de Marvila e actividades noutros pontos do território, como a sede do Clube Oriental de Lisboa, o Palácio da Mitra, o Salão de Festas do Vale Fundão ou o Pátio dos Cês.

Um dos projectos que mais antecipávamos levou-nos ao Torreão Poente do Terreiro do Paço, onde Rui Catalão nos revelou por meio da dança todas as emoções vividas no tempo em que ainda se dançavam slows. Quem passeava pelo Terreiro do Paço não resistiu a espreitar a ora frenética, ora apaixonada dança dos intérpretes que deram tudo de si num espectáculo vibrante.

E o que dizer de “A Pátria é a minha Revolução”, de Tiago Vieira, num antigo entreposto ferroviário da zona industrial de Marvila? Amor, identidade, criação e destruição, corpo e sexo, regra e insubmissão, tudo foi posto em causa numa encenação de teatro e dança que permitiu ao público circular livremente pelo gigantesco armazém ONE – Your First Stop enquanto ria, reflectia e se deixava questionar pelas múltiplas interpelações do criador e performer, também ele nascido e criado em Chelas.

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