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Rainhas dominam Desporto Rei

964583_343606995768563_244849453_oA ascensão do futebol feminino e a prova de que as mulheres também têm jeito para as fintas, leva a que cada vez mais clubes apostem na formação de equipas femininas. 

Sendo ele o desporto rei, o futebol desde sempre cativou massas e conquistou adeptos em todos os cantos do Mundo. Considerado, essencialmente, um desporto para homens, a verdade é que desde sempre as mulheres participaram em jogos com bola e contribuíram de forma preponderante para o desenvolvimento desta modalidade.

Os primórdios do futebol feminino remontam ao séc. XIX sendo que é durante a 1.ª Guerra Mundial que este passa a ganhar mais visibilidade. Com os homens a serem obrigados a irem para os campos de batalha, muitas fábricas tiveram que criar as suas próprias equipas, mas femininas.

No entanto, numa sociedade em que as mulheres eram desvalorizadas, muitos eram os que não viam com bons olhos o facto de elas jogarem futebol, uma vez que a sua obrigação era dedicarem-se única e exclusivamente à família e às lides domésticas. Durante anos o futebol feminino foi criticado, mas a paixão pela modalidade falou mais alto e muitas foram as mulheres que não desistiram de lutar pelo seu sonho e mostrar que também elas poderiam ser bem sucedidas no desporto.Reportagem Futebol Feminino (34)

Lady Florence Dixie é um exemplo disso mesmo e teve um papel fundamental para a modalidade, através da organização de jogos para caridade e ao tornar-se presidente da British Ladies’ Football Club.

Na luta pela igualdade de direitos, as mulheres foram assumindo a sua importância nos vários sectores da sociedade e o futebol não foi excepção. Passo a passo, o futebol começa a ser acompanhado tanto por mulheres como por homens, quer seja no campo a jogar ou nas bancadas a assistir. Esta é uma paixão de todos.

Exemplo de sucesso

Reportagem Futebol Feminino (65)Desde então já se passaram mais de cem anos. Muita coisa mudou. Os últimos vinte anos são exemplo disso e uma prova de que as criticas que se faziam ao futebol feminino perdem cada vez mais força.

Lara Matos é, actualmente, treinadora de futebol. Já passou por clubes como o BeiraMar de Almada e o 1.º de Dezembro, como atleta, e pelo Vila Nova da Rainha e a Fundação Benfica de Marvila, como formadora. Recentemente, assumiu o comando da nova equipa feminina da Associação Desportiva e Cultural da Encarnação e Olivais.

A paixão pelo futebol vem desde pequena, mas a treinadora confessa que no seu tempo não era bem visto o facto das mulheres jogarem à bola. “A minha paixão surgiu quando era muito nova, mas na altura não era tão bem aceite e por isso não comecei logo a jogar. Fui atleta de alta competição de ginástica e só aos 17 anos me tornei federada e comecei a jogar num clube”, conta.

A treinadora congratula-se, no entanto, pelos tempos agora serem diferentes e por ver que existem muitos pais que acompanham as suas atletas nos treinos. “Antigamente havia a ideia de que o futebol era só para meninos. Mas isso é errado. Quem sabe de futebol, sobretudo a nível internacional, sabe que em certos países, como os Estados Unidos, o futebol começou por ser apenas feminino e ainda actualmente as mulheres jogam melhor que os homens”, recorda Lara.

Mudar mentalidadesReportagem Futebol Feminino (18)

Para as jovens que fazem parte da equipa dirigida por Lara, já não foi necessário passar por tanta discriminação.  Muitas ganharam o gosto pela modalidade através dos pais e irmãos; praticam futebol nas escolas e o jeito para a modalidade leva a que os colegas as apoiem e as incentivem a apostar no seu talento.

Ana Maria, de 16 anos, foi a primeira da família a inscrever-se num clube. A paixão pelo futebol surgiu ao acompanhar os jogos do S. L. Benfica na televisão, mas foram os amigos que a incentivaram a apostar numa carreira futebolística. “Já praticava futsal, mas o futebol era a minha verdadeira paixão. Inscrevi-me na ADCEO para aprender novas tácticas”.

Também Bruna Raposo começou a sua ingressão no futebol através do futsal. “Sempre gostei de futebol mas como o Povoense era o clube mais perto de minha casa, com uma equipa feminina, comecei pelo futsal”, revela. O “gostinho pelo futebol” foi incentivado pelo pai, que vê com orgulho a evolução da filha na equipa, onde, aos 14 anos, assume a posição de avançada.

Já a capitã da equipa, Catarina Lopes, talvez por ser relativamente mais velha que as colegas, diz ainda sentir alguma descriminação. “Penso que hoje em dia ainda continua a ser diferente e os rapazes ainda olham de lado para nós”, diz. A verdade é que foi graças ao pai e aos irmãos que ingressou na equipa feminina da associação olivalense. Uma prova de que nem todos os rapazes vêem esta invasão feminina com maus olhos.

Reportagem Futebol Feminino (48)Desporto para todos

É a pensar precisamente nesta evolução que existem, por isso, cada vez mais clubes a querer ter a sua própria equipa feminina e a querer provar que “o futebol deve ser para toda a gente”. Quem o diz é Abílio Ferreira, Secretário do Desporto e Cultura da ADCEO. O Clube decidiu, há cerca de um mês, criar uma equipa feminina e a adesão superou as expectativas.

“Há cerca de 8 anos atrás o clube teve uma equipa feminina, que entretanto acabou. No entanto, decidimos voltar a apostar nesta área pois consideramos que a zona dos Olivais já estava a precisar. Em um mês de treinos já apareceram cerca de 60 raparigas, o que é extraordinário. Não esperávamos tanta adesão”, afirma o dirigente.

O problema é que as atletas são, na sua maioria, muito novas. Colocá-las numa competição de futebol de 11 torna-se injusto, uma vez que a sua preparação ainda não está ao nível exigido para uma competição dessa categoria. O clube pretende, por isso, entrar em acordo com a Associação de Futebol de Lisboa para que esta aceite criar um escalão de futebol de 7.

“O nosso projecto vai depender muito da Associação de Lisboa. Existem muitos clubes interessados no futebol de 7, mas a sua inexistência acabou por obrigá-los a apostar no futebol de 11. Na minha opinião, é injusto porque a maioria destas atletas são muito jovens e não possuem a experiência nem o porte físico das jogadoras mais velhas. É o mesmo que colocar um miúdo de 11 anos, a jogar com o Cardozo, por exemplo”, brinca Lara Matos.

Caso isto não venha a acontecer, o clube irá até Setembro manter os treinos de captação, ao mesmo tempo que investe na evolução das actuais atletas. Nessa altura criará uma equipa oficial, com jogadores com mais de 18 anos, para colocar em competição, e uma equipa de formação, composta pelas atletas mais novas.

Futuro de lutaReportagem Futebol Feminino (57)

Enquanto não abre a época oficial do campeonato, as atletas reúnem-se todas as Segundas, Quartas e Quintas-feiras, das 18h45 às 20h, no campo do clube, onde dia-adia pretendem mostrar que têm as capacidades necessárias para singrar na modalidade.

Pretendem, mais uma vez, mostrar que homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas desde que se empenhem nos seus objectivos. No clube, desde a direcção até aos treinadores e atletas, todos estão empenhados em fazer da equipa feminina mais uma aposta bem sucedida, e é com satisfação que todos assistem à sua evolução.

Agora, é esperar que a Associação de Futebol de Lisboa aceda aos pedidos, mas se isso não acontecer não implica a desistência deste grupo de trabalho. Pelo contrário, será apenas mais uma prova que estas atletas terão que ultrapassar para provar o seu valor.

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