Reportagem

Sem-abrigo de Lisboa contados um por um

sem abrigo1 06jan2014Quantas são as pessoas que vivem nas ruas desta cidade de Lisboa? Nas ruas, nas estações, em arcadas… Já são conhecidos os resultados da contagem que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) organizou no dia 12 de Dezembro de 2013.

Numa só noite, durante três horas, mais de 800 voluntários percorreram a pé as 7 mil ruas da capital. Para quê? Para contar os sem-abrigo. Esta foi a forma encontrada para fazer um levantamento real e fidedigno de uma população que se caracteriza por uma grande mobilidade.

O estudo de caracterização e contabilização da população sem-abrigo impunha-se como uma necessidade da maior importância: têm-se registado mudanças mas as respostas dadas ao problema revelam-se insuficientes.

Foi para responder a esta questão que a Santa Casa lançou esta iniciativa, através do Programa Intergerações/Intersituações de Exclusão e Vulnerabilidade Social. Entre as 21.30h do dia 12 de Dezembro e as 00.30h do dia seguinte, 874 voluntários percorreram a pé as ruas de Lisboa, procedendo à sinalização dos sem-abrigo e procurando registar alguns dados fundamentais: idade aproximada, sexo e local de pernoita.

Grande envolvimento da sociedade civil

As 24 freguesias do concelho de Lisboa e múltiplas associações lisboetas envolveram-se no Projecto através da divulgação e angariação de voluntários e a adesão da população foi esmagadora.

“Esta contagem final vai-nos permitir consolidar os dados que obtivemos ao longo destes meses e que ainda estão em estudo”, explicava João Marrana, coordenador do programa Inter-Gerações, ainda em Dezembro. O objectivo era definir a melhor abordagem de modo a prestar um auxílio mais adequado à população que se pretende ajudar: “Tentar perceber como é que uma instituição” com tanta “tradição e a responsabilidade” pode “definir cada vez melhor a sua política de intervenção e ajudar efetivamente as pessoas a encontrarem o seu caminho e o seu futuro”.

852 sem-abrigo na cidade de Lisboa

Os resultados desta contagem revelaram a existência de 509 pessoas na rua e 343 que dormiram em centros de acolhimento nessa noite de 12 de Dezembro, o que perfaz um total de 852 sem-abrigo.

Segundo os dados de um inquérito que a Santa Casa fez entre Abril e Dezembro do ano passado, para o qual obteve 454 respostas de um total de 649, os conflitos familiares e relacionais, o desemprego e a doença física ou mental são as principais razões para a situação de exclusão. Os sem-abrigo são maioritariamente portugueses (58,4%), solteiros (44,5%) e têm entre 35 e 54 anos (48%). Uma esmagadora maioria (87%) é do sexo masculino.

Entre as respostas, em extremos opostos da distribuição etária, contam-se um jovem de apenas 16 anos e um idoso com 85.

Quanto ao período na rua, 30,6% dos sem-abrigo está nesta situação há menos de um ano, 17% entre um e três anos e 15% entre três e seis anos. O pior caso encontrado é o de um homem que totaliza 37 anos a viver na rua.

Mais de dois terços dos inquiridos (71,8%) não têm qualquer fonte de rendimento e 68,9% recebem apoio na alimentação.

Quanto à distribuição geográfica, a maior concentração verifica-se nas Freguesias de Santa Maria Maior e Parque das Nações, com 83 pessoas cada, seguidas da Freguesia de Santo António, onde estavam 64 sem-abrigo.

Ver mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Close