Reportagem

Muito mais do que teatro: uma escola de vida!

O que de melhor se faz no teatro comunitário está na Penha de França, mais precisamente nas Oficinas de Teatro da Junta de Freguesia.
Um projecto que resulta da dedicação de todos os alunos e que tem as portas abertas para receber todos os interessados em conhecer esta arte mas também em explorar capacidades pessoais que desconheciam existir. Aqui, todos trabalham juntos para conseguir cumprir um mesmo objectivo.

As Oficinas de Teatro da Junta de Freguesia da Penha de França estão, desde há 10 anos, a oferecer à população o que de melhor se faz no teatro comunitário e este ano o projecto foi alargado ao teatro juvenil e sénior, abrindo assim as portas a todos aqueles que desejem seguir uma carreira no mundo das artes. Um projecto criado pelo encenador João Ferrador e que a Junta de Freguesia desde logo apoiou.
Com o teatro comunitário surge um novo público, composto pelos familiares e amigos dos participantes e também pelos próprios moradores
do bairro, “se calhar grande parte nunca tinha ido ao teatro”, ressalva João Ferrador. O teatro torna-se assim num aliado incontornável para “o desenvolvimento da sociedade”. É importante envolver o público e a adesão das pessoas aos espectáculos tem sido enorme “o que me surpreendeu bastante”. O espírito vivido na plateia faz recordar “um pouco a fase inicial do teatro em que as pessoas lançavam os seus
“bitaites” para o palco e abandonavam os espectáculos a meio se não gostassem.” Para João Ferrador “o objectivo não é ser somente
uma escola de actores mas dar bases. Desfazer os nós que ganhamos quando crescemos e vencer medos dando confiança. É estimular
a criatividade e a imaginação, que é algo que nos acompanha a nossa vida toda”.

A arte de representar

Dar os primeiros passos na arte de representar é possível para qualquer um, “não é preciso ser-se actor para se inscrever ou querer ser um.” Por vezes, quando as coisas são baratas as pessoas têm tendência a duvidar da sua qualidade, mas “não quer dizer que não tenhamos aqui grandes potenciais, como se trata de teatro comunitário tem que ter preços acessíveis, aliás, vários alunos que passaram por aqui estão a trabalhar nesta área”. Representar é algo que há uns anos tem vindo a fazer parte da vida de Filipe Barbosa, de 43 anos, que além
de ter tido pequenos papéis já conseguiu integrar algumas telenovelas nacionais. A vontade de crescer foi muita e por isso inscreveu-se nestas aulas mas foi sobretudo para ajudar a superar a sua timidez. Gostava de ser actor amador da Freguesia, “só que não temos um espaço para espectáculos, o que é de lamentar uma vez que temos as oficinas e não temos onde actuar”. Este é o segundo ano que frequenta o curso e pela
sua experiência “esta é uma forma de valorização pessoal, sobretudo para quem é muito fechado. Aprende-se algo que é útil, aprende-se
a ter uma postura diferente na vida e a saber estar em público e perde-se a vergonha. Tem o poder de nos fazer sentir melhores perante
várias situações”. Ao final de um dia de trabalho e de outras actividades em que está envolvido, João Eleutério, de 32 anos, ainda consegue arranjar um tempinho para as Oficinas de Teatro, “cansa mas chego ao final do dia com um sorriso no rosto”. Da área empresarial e das ciências e sem qualquer tipo de experiência no mundo das artes, decidiu soltar “o bichinho que tinha cá dentro” e mergulhar de cabeça neste
desafio que “aceitei com todo o gosto, pois acredito que é uma boa forma de conviver, de distrair e de partilhar.”
Esta é uma boa escola “para o desenvolvimento pessoal, especialmente para pessoas que tenham que trabalhar com o público, não sei se é por causa do professor pois existe tanta gente a vir para aqui, até de outras áreas de Lisboa”.
A fama das Oficinas da Penha de França já chegou ao concelho de Oeiras e é de lá que vem Ana Paula, de 44 anos. Desde jovem que se interessa pelo teatro e chegou a participar em alguns espectáculos mas aos 16 anos começou a descuidar-se dos estudos e os pais fizeram-na desistir. Depois, veio “a faculdade e o trabalho e acabei por deixar de lado esta minha paixão”. Anos mais tarde decide regressar, no entanto, revela que “para mim não é importante ser actriz, estou aqui mais por uma questão de desenvolvimento pessoal”. Em poucos dias apercebeu-
se que estas aulas estavam a ajudá-la a descobrir- se melhor, “aprendi coisas sobre mim que desconhecia e sinto que está a ajudar-me a trabalhar as minhas emoções. No nosso dia-a-dia começamos a ter uma outra predisposição para fazer coisas para as quais não tínhamos vontade, ou não fazíamos por sermos tímidos”. Ana Paula aproveitou para louvar este tipo de iniciativas e afirma que “se houvesse mais poderes locais a promover estas acções talvez fosse melhor para a comunidade”.

Há 10 anos a fazer teatro

Ao longo de dez anos foram vários os espectáculos apresentados ao público de todo o país, tendo alguns deles contado com a presença de
vários actores profissionais como Adelaide João, José Mateus, Cláudia Negrão, José Henrique Neto, Leonor Alcácer, Mafalda Matos, Eric Santos, Guilherme Barroso, Alexandra Sedas e muitos mais. Outros começaram o seu percurso artístico nas Oficinas da Penha de França, como é o caso de Ana Guiomar, que iniciou a sua carreira aqui aos 15 anos e depois entrou nos Morangos com Açúcar; ou a jovem Beatriz Coelho que agora figura na novela Rosa Fogo ou ainda o caso de José Gonçalo Reis que acabou por estagiar em Madrid, através do projecto Inovarte e agora está a trabalhar no país vizinho.
As Oficinas de Teatro funcionam em quatro grupos distintos: Teatro Infantil, com a professora Francisca Lima; Teatro Juvenil, com Welquet
Bungué; Teatro Adultos, com João Ferrador e Teatro Sénior, leccionado por Leonor Alcácer.

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9 Comments

  1. Se quiserem conhecer mais um pouco do trabalho que se faz nas oficinas consultem a pag. no facebook
    OFICINAS DE TEATRO DA PENHA DE FRANÇA

    Para conhecerem um pouco do meu trabalho consultem no facebook:
    Figurante/actor Filipe Barbosa

  2. Tive o privilégio de fazer parte das Oficinas de Teatro da Penha de França, já lá vão 5 anos. Valeram a pena, todos os momentos. João Ferrador, obrigado e parabens pelo teu trabalho. Um abraço

  3. O meu trabalho é recompensado logo à partida pela possibilidade de trabalhar muito com a criatividade e o desafio, e depois pelo caminho que fazem alguns de voçês que por aqui passaram, uns fazendo da arte profissão e outros usando a arte em proveito proprio no quotidiano.
    São pessoas como voçês, João e Filipe que me fazem acreditar que vou no caminho mais acertado ou menos errado.Obrigado a todos

  4. Eu também fiz parte das Oficinas de Teatro da Penha de França e aprendi muito!! é sem duvida uma experiencia enriquecedora! Obrigada João!:) Aprende a ser “surdo” e continua a fazer o que tu acreditas ser a coisa certa…porque estás no bom caminho sim!Parabens!

  5. Olá João já lá vai tanto tempo que tive o privilégio de fazer parte das Oficinas de Teatro da Penha de França. Foi muito enriquecedor ao nivel pessoal, adorei mesmo. Parabéns joão, excelente trabalho, qualquer dia passo lá para vos fazer uma visita. Beijinhos

  6. Eu tenho a dizer que nós enquanto alunos, notamos o grau de disponibilidade e de à vontade, e até mesmo da própria personalidade, que qualquer professor quer partilhar connosco.. e daí sabemos quais sao os professores que gostam realmente de ensinar e que estão sempre à espera de mais e apoiam e motivam qulquer aluno a evoluir, e depois há aqueles professores em que se nota a quantidade quase de obrigaçao para partilhar algo com os demis.. mas pronto, o que eu queria dizer é que é possivel notar, de longe, que o João adora o que faz, adora ensinar, adora a arte, adora partilhar coisas, adora ajudar e procura sempre aprender e evoluir! e isso sente-se e depois motiva os alunos a querer saber mais e mais, e mesmo sem, por vezes se darem conta, tanto o professor como os alunos evoluem,descobrem novas formas de tentar e criar, tornando-se mais fortes!! beijinhoss

  7. Obrigada João por ter recebido a Inês nas Oficinas de Teatro. Após aquela “experiência menos boa” para quem está a dar os primeiros passos de após tantos ensaios ver os sonhos adiados ou quem sabe, desfeitos está a ser gratificante aprender com a Francisca Lima e quem sabe, passar para a o Welquet Bungué.
    Parabéns pelo vosso trabalho e que este projecto tenho sempre muito sucesso!
    Lurdes Gomes

  8. Olá. Também eu tive a sorte de fazer parte deste projecto há uns anitos atrás. Foram dos melhores anos da minha vida, espero um dia poder voltar a pisar o palco convosco.

    Tudo de bom!
    beijinhos

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