Reportagem

IX Encontro Nacional das Concertinas

_Encontro Concertinas - exterior2Decorreu no dia 26 de Janeiro o IX Encontro Nacional das Concertinas, promovido pela Associação das Casas Regionais em Lisboa no Salão de Festas do Vale Fundão, em Marvila. O evento contou com o apoio da Junta de Freguesia de Marvila.

Não era preciso entrar no Salão de Festas do Vale Fundão para absorver o clima de festa e ouvir as primeiras notas de concertina. No exterior, o bulício próprio do período do período que antecede as festas era contagioso e vários tocadores brindavam os presentes com os primeiros acordes da tarde.

Dentro do recinto, as pessoas acomodavam-se conforme podiam, sentadas ou de pé, esperando o início das actuações.

Eram esperadas pela organização cerca de 1000 pessoas, desde as 15 até às 20 horas, entre participantes inscritos e público. A própria realização do Encontro no Salão de Festas respondia à necessidade de encontrar alternativa à sede da Associação das Casas Regionais em Lisboa (ACRL), demasiado pequena para responder à imensa afluência de gente que normalmente adere a este tipo de iniciativas.

Casa Regional de Arcos de Valdevez em lugar de destaque

_Encontro Concertinas - CC Pampilhosa3

Foi a Casa do Concelho de Arcos de Valdevez, a anfitriã do evento, que abriu a festa. Esta Casa foi co-fundadora da ACRL, em 2007, e o seu presidente, Joaquim Brito, preside igualmente à ACRL.

A Casa dos Arcos, como também é conhecida, representa aquela vila do distrito de Viana do Castelo, divulgando a sua riqueza cultural, as suas tradições, gastronomia, artesanato, em suma, o património imaterial de uma região rica em costumes. Nas palavras do seu presidente, “a Casa do Concelho de Arcos de Valdevez representa o coração do Alto Minho”.

Ora num evento em que a concertina foi rainha, faz todo o sentido ter esta Casa minhota como anfitriã: “O Minho é por excelência a terra das concertinas. O folclore minhoto é muito ritmado e a concertina é o seu instrumento de eleição”.

Concertina: um instrumento em voga

_Encontro Concertinas - Joaquim Brito2Joaquim Brito não tem dúvidas quando questionado sobre a popularidade do instrumento musical: “É extraordinário verificar que há muitos jovens apaixonados pela concertina, rapazes e raparigas. Não há idade para tocar este instrumento. Pode-se dizer que está na moda”.

E se é verdade que não tem idade, é igualmente verdade que também não se resume à ruralidade. O presidente conta-nos com visível orgulho alguns casos de jovens estudantes e jovens licenciados que aprendem a tocar o instrumento ou que não o esquecem apesar de trabalharem em áreas completamente diferentes, independentemente do sítio onde vivem.

João Tomás, jovem tocador

Aproveitámos o ensejo e falámos com João Tomás, jovem tocador de 19 anos em representação da Casa do Concelho da Pampilhosa da Serra.

Percebemos imediatamente que a sua relação com o instrumento musical vem de tenra idade, confirmando que nunca é demasiado cedo para se começar:  “A concertina veio para a minha família através do meu avô paterno. Dele passou para o meu pai, para o meu irmão mais velho e chegou a mim. Já toco desde os cinco anos, a concertina é a minha vida”.

Mas a familiaridade que ganhou com a concertina não se limita ao lazer. Na verdade, a própria actividade profissional de João Tomás gira em torno do instrumento musical: o seu trabalho é reparar e afinar concertinas.

E porque o faz? É notório que retira um prazer enorme desta actividade. A concertina evoca as raízes familiares, transporta-o para outras paragens ligeiramente mais a Norte: “Quando toco lembro-me da minha aldeia, da minha família, de coisas do dia-a-dia lá da terra”. A terra de que fala é o Coelhal, aldeia situada no concelho da Pampilhosa da Serra, no distrito de Coimbra, bem no centro do país.

A forte ligação à terra dos seus avós é a razão do seu empenho no regionalismo e da sua presença assídua nos eventos em que a Casa da Pampilhosa participa. O amor pela música popular tradicional faz o resto.

_Encontro Concertinas - CC Arcos Valdevez1Uma homenagem que já é habitual

Este foi já o 9.º Encontro do género, renovando-se anualmente uma “autêntica homenagem à concertina”, usando as palavras de Joaquim Brito. A data habitual do evento é o último Domingo de Janeiro, o que faz com que os tocadores já o incluam na sua agenda.

A Casa do Concelho de Arcos de Valdevez, que fez de Marvila a sua casa há mais de 20 anos, trabalha em estreita parceria com a junta de freguesia para a dinamização destas e outras actividades, uma das quais um convívio no Parque do Vale Fundão no mês de Julho com o nome de “Festa da Amizade”.

Joaquim Brito é a prova de que «quem corre por gosto não cansa». Afirma, bem-disposto, já não ser jovem, e não se esquece das datas: “ando nisto desde que era rapaz. Estou na direcção da Casa dos Arcos desde 1973 e sou presidente há 27 anos”. Este passado comum faz com que a história da colectividade se funda com a história do seu presidente. Mas há também juventude: “temos uma Casa jovem, quando muitas outras Casas se queixam do contrário”.

Parecem assegurados muitos sucessos para o futuro das Casas Regionais em geral, e da de Arcos de Valdevez em particular, com o dinamismo juvenil aliado à experiência de uma vida inteira de serviço ao regionalismo e à divulgação das tradições e costumes da terra. Porque ela até pode estar longe, mas continua bem presente no coração de quem não a esquece.

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