Reportagem

Ana Sofia Campeã de nome e… do acordeão

Quando muitas jovens passavam as suas tardes a brincar com bonecas, Ana Sofia Campeã estreava-se a nível televisivo no programa “A Filha da Cornélia” como acordeonista, um acontecimento que marcou a sua carreira artística. Chegou àquele lugar em pouco tempo.
Tinha nove anos de idade quando tudo começou e não tinha ninguém na família na área da música. “O meu pai gostava do instrumento e como achava que eu devia fazer alguma actividade acabou por escolher a música e inscreveu-me no Instituto de Música Vitorino Matono.”
Passados alguns meses estreou-se num festival de acordeão, no Sobreiro, em Mafra, ao lado de Eugénia Lima, “que foi uma grande influência na minha vida artística”. A sua performance e boa disposição começou a despertar a atenção das pessoas e logo vieram os convites para programas de rádio, televisão e, por fim, os espectáculos pelo mundo fora. A sua primeira apresentação a nível internacional foi na Suíça, aos 11 anos e ainda em 1994 obtém o 1.º lugar no Concurso Nacional de Acordeão em Lisboa. A partir daqui os prémios foram sempre a somar.

De pequenino se torce o pepino

Apesar da tenra idade começou uma carreira de acordeonista profissional que lhe tem vindo a granjear vários sucessos, mas os estudos nunca foram descurados. Felizmente, teve a maior ajuda que alguém pode ter. “Os meus pais deram-me apoio e indicaram-me a direcção certa para não me perder numa altura em que mais precisava, como qualquer criança. A eles tudo devo.”
E com muito trabalho e muita disciplina, conseguiu gerir o tempo e licenciar-se em Educação Musical e ao mesmo tempo terminar o 8.º grau no conservatório, tornando-se mestre. Poderia dizer-se que este foi um verdadeiro caso de sucesso relâmpago. “Tem vindo tudo um bocadinho por surpresa, mas são coisas que a vida me tem vindo a oferecer fruto de muito trabalho, muito respeito por quem já cá andava e por quem está a começar”. O momento que mais a marcou foi o dia em que pisou o palco do Eurovisão (2009), com o grupo Flor-de-Lis, “nunca na vida pensei vencer o festival e muito menos representar Portugal nesse evento.” Recorda igualmente com carinho a sua actuação
no Coliseu dos Recreios, no Porto e em Lisboa, na Grande Noite do Fado.
Hoje em dia é fácil ligar uma estação de rádio e ouvir-se um acordeão, como acontece quando se ouve os Amor Electro, “basta estar atento que ele está lá”. Para Ana Sofia Campeã não é estranho esta recente procura por acordeonistas, uma arte que está a ganhar uma nova vida. “Nota-se um procurar agora daquilo que entretanto caiu em desuso e está fora de moda, especialmente pelas gerações mais novas como é o caso do fado, não quer dizer que não se toque de uma forma popular ou que não se cante o fado tradicional mas de uma forma mais contemporânea”.
Actualmente, para além das actuações a solo, integra o grupo The Godspeed Society, que mistura o rock, o jazz e os blues. “Tentamos trazer um pouco a vertente mais juvenil, inovar e, de certa forma, desmistificar o estereótipo que o acordeão é de outras gerações, pelo contrário, adapta-se a qualquer estilo”. Para breve está o lançamento de mais um disco com a banda.

Aprender a arte

É também professora de música e de vários instrumentos, incluindo o acordeão que não considera ser um “bicho-de-setecabeças”, mas como qualquer instrumento dá algum trabalho. Para quem quiser aprender música o ideal é “começar quando se aprende a ler” e no caso do  acordeão convém que a criança tenha alguma estrutura visto que o instrumento é pesado, depois só tem de “trabalhar o máximo possível porque as mãos são todas iguais, é preciso é trabalhá-las.” Existem várias escolas não oficiais que são muito boas para se começar e a qualquer altura um aluno pode candidatar-se a um exame para ter a equivalência, “até porque muita gente vive longe do conservatório e não tem possibilidades monetárias para suportar um instituto oficial”.
Como qualquer aprendizagem na vida é preciso dar tempo ao tempo e acima de tudo é preciso “consumir muita música e de vários géneros para se poder dar expressão, para não ficarmos fechados só naquele género e para podermos inovar também”. A música é para si uma paixão que pretende desfrutar o máximo de tempo possível “o meu desejo profundo é poder pisar o palco por muitos anos, com aplausos, sorrisos e com o carinho do público.”
Está neste momento a concluir o mestrado de animação sócio-cultural e inclusão e ainda pretende tirar um mestrado em musicoterapia, para “abranger todas as áreas da música.”

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