Reportagem

Alunos de escola

Há sete anos, quando foi construída, a Escola Básica Integrada 2,3 Vasco da Gama, no Parque das Nações, foi considerada um equipamento modelo a nível nacional. Mas a pressão urbanística e a falta de escolas na zona levaram a Vasco da Gama a exceder as suas capacidades. Com cerca de 700 alunos, dos 5 aos 16 anos, tem vindo a perder qualidade

– Há falta de escolas no Parque das Nações e a Escola Básica Integrada 2,3 Vasco da Gama está a ser a principal afectada. Como reage a isto?
– O problema é que a Vasco da Gama tem sofrido na pele a inexistência de equipamentos escolares na zona que estavam previstos e não foram construídos. Na opinião de alguns, esta escola foi concebida apenas para permitir a venda do imobiliário. A verdade é que o facto de não existirem equipamentos escolares não pode deixar que se afunde a Vasco da Gama, uma escola que foi construída e projectada por exemplo, para ter quatro turmas do primeiro ciclo e que actualmente está a funcionar com nove. O que significa que já excedemos claramente a capacidade da escola. A lista de espera para pré-escolar e primeiro ciclo ascende às duas centenas. Nestes ciclos, se duplicássemos hoje a escola ela já estaria cheia.
– Então porque continuam a aceitar crianças?
– Continua-se a aceitar crianças devido às pressões dos pais que utilizam todos os meios para colocar os filhos na Vasco da Gama. Os pais têm toda a legitimidade de ter os seus filhos na escola da sua área de residência, principalmente os mais novos, mas há pais que querem colocar aqui os filhos a qualquer custo, e a qualidade fica comprometida…
– Em que medida?
– É, neste momento impossível aumentar o número de turmas, já se redescobriram salas, já se duplicaram turnos, não é possível é fazer mais casas de banho, por exemplo. Num dia de chuva, os nossos alunos do JI e 1.º Ciclo quase não podem sair das salas, há uma sala polivalente, mas não cabem lá todos. Há um esforço muito grande por parte de quem gere a escola para fazer da Vasco da Gama a melhor escola possível.
– O excesso de alunos já levou à necessidade de criar o turno duplo.
– Optou-se por este sistema para não deixar crianças de fora, e a partir desse momento é difícil haver um consenso, foi mesmo tomar a decisão que dói menos. Mas independentemente de estar a funcionar em turno duplo, a maior parte das crianças do JI e 1º Ciclos, estão cá de manhã até ao fim do dia, dado que ambos os pais trabalham. A escola funciona em regime duplo há cerca de cinco anos, as turmas são grandes e a qualidade das aprendizagens pode vir a ressentir-se. Mas o facto é que há pais que preferem ter os filhos aqui das seis da manhã à meia-noite do que tê-los noutra escola dos Olivais. A Direcção Geral de Educação de Lisboa diz que tem capacidade nas escolas aqui à volta para ter mais 30 turmas a funcionar em turno único. Dizem que esta é uma escola modelo, existe efectivamente um esforço muito grande dos órgãos da escola, corpo docente, funcionários e pais para que assim seja mas é uma escola pública como as outras. Estamos ainda longe de ser uma escola ideal ou modelo, perdeu-se qualidade no espaço físico e no bem-estar. Esta escola tem uma auréola à sua volta que não corresponde à realidade.
– Mas quando foi construída previa-se uma escola de qualidade.
– É verdade que tem umas instalações agradáveis à vista, mas como todas as escolas novas têm. É evidente que esta escola, e é preciso dizê-lo, foi criada no contexto da Expo 98, que reuniu uma tentativa de criar um novo conceito de qualidade urbana que tem a ver com a qualidade dos materiais, não se olhou a custos para se construir a Vasco da Gama, e ficou realmente muito bonita, mas também chove cá dentro, também caem placas do tecto…
– Os pais estão descontentes? O que podem fazer?
– Não há descontentamento porque há um enorme esforço para as coisas correrem bem, e é preciso dizer que de uma forma geral tudo corre bem, as crianças são felizes na escola, estão em segurança e na sua quase totalidade saem muito bem preparados da Vasco da Gama, conseguindo-se que grande parte dos pais nem sequer se aperceba das dificuldades diárias desta escola. O centro das atenções para a resolução dos problemas da inexistência de equipamentos tem de deixar de ser a Vasco da Gama e começar a ser outras instâncias que podem mudar esta realidade, nomeadamente as autarquias. Quer a Associação de Moradores, quer a Associação de Pais, andam desde 1999 a enviar faxes e e-mails para as entidades competentes alertando para esta situação que sabíamos ser inevitável, tentámos em devido tempo pressionar para se construírem os espaços previstos. Neste momento só acreditamos, vendo, porque torna-se difícil acreditar em mais promessas.
– Que conselho daria a pais de crianças residentes no Parque das Nações prestes a ingressar no ensino básico?
– Os pais têm que procurar escolas alternativas, tendo que entender que infelizmente a Vasco da Gama não comporta todos os que legitimamente a procuram e têm que assegurar, acima de tudo, vagas. É preciso ir às escolas da proximidade, conhecer, procurar nos Olivais, Encarnação, Moscavide e não deixar a decisão de escolher alternativas para o fim do ano lectivo. Não são as instalações que fazem uma boa escola, mas sim os profissionais.

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