Reportagem

Manuel dos Santos: fotógrafo e bandarilheiro

 

resized_manuel-dos-santos-fotografo-e-bandarilheiro-2 resized_manuel-dos-santos-fotografo-e-bandarilheiro-3No topo da Avenida Mouzinho de Albuquerque, já quase na Praça Paiva Couceiro, encontramos uma loja cujo dono tem uma história para contar.

Manuel dos Santos está bem-disposto no dia em que o visitamos. Um dos amigos que passa para o cumprimentar (e ler o jornal desportivo) revela-nos que é naturalmente assim, excepto quando lhe acontece alguma…

À pergunta “Quantos anos tem, se não é indiscrição?”, responde com o clássico “Quantos anos me dá?”, antes de esclarecer que já conta 86 primaveras.

A pequenez do piso térreo da loja esconde um estúdio na cave, equipada com toda a parafernália necessária ao seu trabalho. No período de tempo da nossa entrevista, atende dois ou três clientes com a mesma simpatia com que nos recebeu.

Manuel dos Santos dedicou-se à fotografia como meio de ganhar a vida algum tempo depois do 25 de Abril de 1974. Conta-nos que já fez de tudo: eventos variados, baptizados, casamentos, primeiras-comunhões… Agora, afirma já não ter corpo para isso. A idade não perdoa!

Mas quando a língua de Manuel se solta verdadeiramente é para falar da tauromaquia. “Toureei durante muitos anos, como bandarilheiro profissional. Essa sempre foi a minha grande paixão”.

Pelas arenas do mundo

Com o rosto iluminado, o nosso amigo enumera os lugares por onde passou, espalhados pelo globo: “Percorri quase todo o mundo dos touros, acompanhando os toureiros que trabalhavam comigo: em Espanha estive em Madrid, Barcelona, Bilbao, Sevilha… em França foi mais ao Sul, em Dax, Bayonne e outros sítios; estive em África, Lourenço Marques, Luanda, Lobito, Benguela, Sá da Bandeira, nos Açores, na Madeira, no México… é um prazer e uma alegria muito grande que tenho, porque nem todos podem gabar-se disso!”.

Não nos sabe explicar por palavras o que o atraía na vida da arena: “É uma coisa que nos está no sangue. Que nasce connosco. Depois a outra parte é treino, esforço, e dedicação. Um tipo ser toureiro é uma profissão difícil. É para quem pode, não para quem quer. O espectáculo do touro é uma arte que não está ao alcance de todos. Uma corrida tem diversos artistas, do cavaleiro ao forcado, ao matador, ao bandarilheiro. Todos fazem parte dele e todos são importantes”.

Questões ligadas ao sofrimento dos animais não se colocavam quando Manuel exercia as suas funções na arena e parecem continuar a não o demover hoje em dia: “Sou contra a proibição das touradas. Acho que ninguém devia poder proibir uma coisa que tantas pessoas gostam”. Não nos entretemos a esgrimir argumentos, até porque já dobra a entrada novo cliente.

Seja como for, é a premir o botão para tirar fotografias que o nosso interlocutor ganha a vida por estes dias, e sobre isso também tem alguma coisa a dizer: “Quando se tira uma fotografia seja a quem for, procura-se sempre a forma de deixar a pessoa mais bonita, isso é evidente. Também há muita arte nisso!”. Sobre o recente fenómeno das selfies, aí já não tece comentários.

Despedimo-nos sem olés, depois de o nosso fotógrafo obrigar Manuel dos Santos a inverter o habitual papel e… posar para a fotografia.

Ver mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Close