“Pezinho de Dança” – Aulas de ballet no Ateneu da Madre de Deus

A professora Ana Rodrigues fala-nos sobre a sua Escola de Dança. São cerca de 60 as crianças e adolescentes que dão um “pezinho de dança” nas suas aulas, nas instalações do Ateneu da Madre de Deus, bem no coração de Lisboa. Iniciam-se no ballet, dança contemporânea e moderna, mas aprendem muito mais que isso…

A professora Ana Rodrigues dedicou uma vida inteira à dança em geral, e ao ballet em particular. O “namoro” começou quando tinha apenas cinco anos, por influência da mãe. Assim desenvolveu o “vício da dança”, como gosta de chamar a este gosto que lhe tomou as rédeas da vida, ao ponto de hoje ser ela a transmitir o mesmo “vício” aos seus alunos.

Conta-nos que ingressou no grupo “Dança & Dança”, com a coreógrafa Fernanda Anes e como isso marcou o seu percurso. Depois, há cerca de 20 anos, surgiu a oportunidade de dar aulas e formar a escola “Pezinho de Dança” de raiz. E assim se faz a história de um projecto que não mais largou.

60 jovens bailarinas

São cerca de 60 as crianças e adolescentes que frequentam actualmente a sua Escola de Dança, todas do sexo feminino, entre os 2 e os 16 anos, com uma média de aulas de quatro horas semanais. A quarta-feira é dedicada à dança contemporânea e moderna, o ballet impera nos restantes dias da semana.

Mas porque não existem rapazes inscritos? “Já tive alunos do sexo masculino, mas quando me aparece um rapaz e eu acho que ele tem capacidades, encaminho-o para o Conservatório Nacional, porque penso que os bailarinos devem receber uma formação mais completa, sem perder muito tempo no amador”, esclarece a responsável da Escola. Acrescenta, depois, que o caminho até à profissionalização é mais tortuoso para as mulheres do que para os homens, em virtude no número de bailarinas ser muito superior ao de bailarinos.

Ballet tem uma componente educativa muito importante

O ballet é importante na educação não só para aqueles que fazem desta dança carreira. Ana Rodrigues destaca inúmeros benefícios para os praticantes: “[o ballet] exige uma grande coordenação e uma grande harmonia entre a mímica e a música. Depois há a componente da disciplina, da postura…”.

A professora não tem dúvidas que as suas alunas retiram proveitos desta aprendizagem: “são meninas com uma postura muito correcta. Sabem estar, sabem sentar-se, levantar-se”. E não é de espantar, porque é neste tipo de cuidados que a professora mais investe: “é onde vinco sempre mais a minha posição. Não mexer no cabelo quando se está num local onde estão à prova, não mexer na roupa, não coçar o nariz… As crianças saem daqui preparadíssimas para essas situações em que têm de deixar uma boa marca, causar boa impressão”.

Confiança, paciência, postura

Joana Soares, aluna de 12 anos que está no “Pezinho de Dança” desde os quatro, identifica a principal mais-valia que adquiriu na Escola de Dança: “Aprendi aqui muita coisa e acho que isso me vai ajudar ao longo da minha vida; aprendi a ter confiança em mim própria”. Além da confiança, destaca também a virtude da paciência: “para termos uma boa postura no ballet temos de saber manter a calma e de ter muita paciência”. E será que ela tem paciência? “Às vezes”, responde sorridente.

Já Carolina Henriques, com os seus 10 anos de idade, aponta que o ballet “ensina a segurança, ajuda a ter uma boa postura, a lidar com as pessoas…” Como assim, perguntamos nós? “A professora dá ideias que temos de respeitar. Às vezes até achamos que não vamos gostar de fazer uma coisa mas depois fazemos e gostamos”. Foi a Avó Conceição que sugeriu a ideia de pôr a Carolina a aprender a dançar. Chegou e gostou muito: “Gostei logo à primeira, achei giro e fui gostando mais ao longo do tempo.”

Aliás, o gosto pela dança e pelas aulas é transversal a todas as classes do “Pezinho de Dança”. Ana Rita Tomás, bailarina de 15 anos, nem consegue escolher aquilo de que gosta mais: “Gosto do ambiente. Gosto das pessoas, gosto da professora, das aulas… E gosto muito de dançar, como é óbvio!”.

Espectáculos com casa cheia

Dois grandes espectáculos marcam o ano da Escola: o de Natal e o de encerramento do ano, habitualmente marcado para o mês de Julho. Perante uma moldura humana impressionante de 600 pessoas, como informa orgulhosa a professora Ana Rodrigues, as bailarinas mostram aos seus familiares e amigos e ao público em geral as coreografias ensaiadas e repetidas até à perfeição durante as aulas.

Não deve ser fácil conter o nervosismo de dançar para plateias de 600 pessoas, mas as jovens bailarinas estão treinadas para aguentar os nervos. Madalena Filipe, com apenas 8 anos, confessa, vaidosa, que adora dançar para outras pessoas: “Lá em casa gosto muito de dançar com a minha mana. Quando temos visitas gostamos de fazer espectáculos de dança e de ginástica, porque também andamos na ginástica lá na escola”.

O espectáculo é a parte preferida para todas, alunas e professora: “a melhor parte é levar a palco aquilo que trabalhámos. É o que eu mais adoro, e elas também”, diz Ana Rodrigues. É natural que assim seja, porque os espectáculos são o florescer do resultado prático de um ano inteiro de trabalho, e dão um gosto particular por serem um acto criativo: “gosto de tudo o que envolve ensinar, mas gosto principalmente de criar. Criar coreografias tem um sabor especial”.

Um segredo contado ao ouvido

A todos os que ponderem começar a dançar, qualquer que seja o tipo de dança, aqui ficam as palavras da pequena Carlota Caixado (5 anos), que convencerão mesmo os mais reticentes: “O ballet é giro porque gosto de dançar”.

Mas atenção, que foi-nos contado em absoluto segredo!