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Noite de fados no Vitória Clube de Lisboa

_Odete Rosa Noite Fado no Vitoria (4)No passado dia 11 de Janeiro, o Vitória Clube de Lisboa voltou a presentear o público com mais uma casa cheia com aquilo que de melhor Lisboa tem para oferecer: o fado.

O público conversa, circulam travessas com petiscos, ecoam gargalhadas e gritam-se pedidos para os membros da colectividade que servem às mesas. Subitamente, reduzem-se as luzes, endireitam-se as poses, calam-se as vozes. Silêncio, que se vai cantar o fado.

Não foi a primeira nem terá sido a última vez que se ouviu o fado na sala do Vitória Clube de Lisboa (VCL). As sessões têm tido uma periodicidade mensal, e assim se espera que continue a ser, dada a afluência de público…

Joaquim Ferreira, secretário-geral do VCL, é quem garante: “Houve sempre uma cultura de fado desde há muitos anos no Vitória. Nos anos 80, a nossa casa foi considerada a catedral do fado de Lisboa. Isto significa obviamente que os grandes vultos do fado português, todos eles, passaram aqui pela nossa sala.” Acrescenta depois que “a importância que o fado tem para o Vitória é transversal à sociedade portuguesa. Não é por acaso que foi considerado património mundial da humanidade.”

Casa cheia… outra vez_Popinha Ramos Noite Fado no Vitoria (2)

O público adere em grande número sempre que o VCL organiza uma noite de fados. Conforme nos conta Joaquim Ferreira, “normalmente as nossas sessões de fado nem precisam de publicidade porque temos sempre casa cheia. Um dos nossos problemas é precisamente a exiguidade das nossas instalações, insuficientes para a procura que temos.”

Isso já nós sabíamos… minutos antes tínhamos ouvido da boca de Carlos Silva, vogal do clube e um dos responsáveis pela sessão: “Há sempre muita procura. Anunciámos esta sessão há coisa de um mês e na primeira semana a casa ficou logo cheia”.

Parceria com a Junta de Freguesia do Beato

O apoio da Junta de Freguesia do Beato é decisivo para a realização destes eventos. “Não nos cansamos de manifestar o nosso profundo reconhecimento pelo apoio prestado pela Junta de Freguesia do Beato, não só no fado mas também noutras actividades”, refere o secretário-geral da colectividade.

De facto, a Junta de Freguesia do Beato fez-se representar pelo seu tesoureiro, Vítor Marques, que nos afirmou com vigor: “O fado é cultura. Mobilizamos todos os meios para que o fado seja implantado na freguesia do Beato”. E explicou em seguida com maior detalhe: “Criámos um concurso com o lema «O Beato dá voz ao fado» há dois anos; quando o Vitória quis fazer uma escola de fados incentivámos com entusiasmo e estamos aqui para os ajudar naquilo que for preciso.”

O fado é para todos_VCL - Vítor Marques, tesoureiro da JF Beato

E se alguém duvida de que o fado é para todos, bastava um relance sobre a composição da sala e o painel de vozes para esclarecer todas as dúvidas. Entre os fadistas não só havia jovens, como cantaram o fado crianças de 10 anos!

Conta-nos Vítor Marques: “Há muitos jovens da freguesia que estão a querer cantar o fado e que se estão a revelar boas vozes. O fado não tem idade.”

Mas a diversidade não se esgota na faixa etária dos fadistas. Qualquer pessoa pode frequentar a Academia de Fado da colectividade. “Procuramos sempre contrariar a ideia de que só os profissionais é que são fadistas” explica Joaquim Ferreira. No entanto, e como atestado de qualidade, lembra que “também contamos com a presença ocasional de figuras mais proeminentes; hoje especificamente teremos a cantar a madrinha da nossa academia, a Filipa Cardoso, que vai deliciar esta moldura humana maravilhosa com algumas interpretações.”

Deixar o fado para quem sabe… e saber ouvi-los!

Nem o sercretário-geral do Vitória nem o tesoureiro da Junta de Freguesia do Beato se atrevem a cantar o fado. Preferem deixá-lo para_Adriano Santos Noite Fado no Vitoria (3) quem o sabe interpretar. A sua participação na arte fica-se pelo saber ouvir. É Joaquim Ferreira quem nos chama atenção para a importância “Há uma certa forma de estar… é preciso respeitar e saber ouvir o fado.”

A boa disposição reinou numa noite em que só a melancolia de alguns “fadunchos” a interrompeu. Mas essa é sempre bem-vinda. Porque afinal de contas, “Tudo isto existe. Tudo isto é triste. Tudo isto é fado”.

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