Cultura

“Misericórdia” de Lídia Jorge vence Prémio Literário Fernando Namora

Com o romance “Misericórdia”, Lídia Jorge foi a vencedora, por unanimidade do júri, do Prémio Literário Fernando Namora, relativo ao ano de 2023, instituído pela Estoril Sol, com o valor pecuniário de 15 mil euros.

Na deliberação do Júri, presidido por Guilherme D ´Oliveira Martins, e após debate sobre os méritos das obras apresentadas a concurso, assinala-se que a obra “Misericórdia”, de Lídia Jorge, “é um romance, numa escrita marcada por singular criatividade, transfigura ficcionalmente a matéria do real que o suscita e, na construção da personagem nuclear como de outras, nos múltiplos momentos da efabulação, nos planos em torno dos seus universos sociais, emocionais, afectivos, e nas notações de um processo de perda sem excessos descritivos, exprime uma voz com atributos incomuns de generosidade e humanismo. Trata-se, com efeito, de uma obra maior na bibliografia da Escritora”.

O Júri anota, ainda, a manifesta qualidade literária de vários dos livros a concurso, entre os quais assinala “W. B. Yeats, Onde Vão Morrer os Poetas” de Cristina Carvalho, “Um Cão no Meio do Caminho” de Isabela Figueiredo, “História de Roma” de Joana Bértholo, e “Cadernos de Água” de João Reis.

Romancista e contista portuguesa, Lídia Jorge nasceu, a 18 de Junho de 1946, em Boliqueime, Loulé. Oriunda de uma família de agricultores algarvios apreciadores da leitura, desde tenra idade que se habituou a escutar, ao serão, como entretenimento, histórias por eles contadas em voz alta.

Após ter feito a antiga quarta classe, a mãe, apercebendo-se do gosto que a filha tinha pelos livros e considerando que a instrução e a cultura a poderiam libertar, fez todos os esforços para que ela continuasse os estudos, matriculando-a no liceu de Faro. Um professor daquele estabelecimento de ensino, tendo constatado a sua aptidão e vendo que os familiares não dispunham de capacidade financeira para o seu ingresso na Universidade, sugeriu que se candidatasse a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Esta foi-lhe concedida, tendo obtido a licenciatura em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa.

O tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge, como, por exemplo, em “Notícia da Cidade Silvestre” (1984) e “A Costa dos Murmúrios” (1988). “O Dia dos Prodígios” (1979), outro romance de relevo, encerra uma grande capacidade inventiva, retratando o marasmo e a desadaptação de uma pequena aldeia algarvia. “O Vento Assobiando nas Gruas” (2002) é mais um romance da autora e aborda a relação entre uma mulher branca com um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Este seu livro venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003. Venceu o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas 2020.

Lídia Jorge foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e integrou o Conselho Geral da Universidade do Algarve, instituição de ensino superior que lhe atribuiu, a 15 de dezembro de 2010, o doutoramento Honoris Causa.

A sua obra, traduzida em mais de vinte línguas, é avidamente lida por um vasto público, pois, para além do seu fulgente valor literário, retrata temas muito pertinentes como o passado colonial de Portugal, os conflitos entre gerações, a condição feminina e a emigração.

Presidido por Guilherme d`Oliveira Martins, o Júri desta 26.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora foi ainda integrado por José Manuel Mendes, pela Associação Portuguesa de Escritores, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Ana Paula Laborinho, Liberto Cruz e José Carlos de Vasconcelos, convidados a título individual, e por Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.

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