Jesus Cristo Superstar – Coliseu dos Recreios rendido ao espectáculo do Elo Social

Um verdadeiro espectáculo: o Elo Social levou ao palco do Coliseu o musical Jesus Cristo Superstar, interpretado por 80 actores com deficiência.

Depois de ter estreado o musical em 2011 e de ter esgotado por duas vezes a maior sala do Cinema São Jorge em 2013 com a reposição que assinalou o 30.º aniversário da instituição, chegou a vez de levar o Jesus Cristo Superstar ao Coliseu. Mais de 1800 pessoas assistiram à sessão!

80 actores e figurantes com deficiência intelectual e multideficiência deliciaram o público ao longo das 19 cenas do espectáculo, desde a chegada a Jerusalém de Jesus Cristo Superstar e dos seus apóstolos até à descida da cruz e à despedida da personagem principal. O resultado? Ovação de pé.

O espectáculo contou com apresentação de Fernanda Freitas e Mafalda Ribeiro, auxiliadas por Paula Teixeira na interpretação gestual. A música ao vivo ficou a cargo do grupo Panteras Negras. Contou com o apoio das juntas de freguesia dos Olivais e Moscavide e Portela, bem como da Câmara Municipal de Lisboa, sobretudo ao nível do transporte de pessoas e materiais (cenários, roupas, etc.).

Um trio de ases

De entre os actores com maior preponderância, o destaque tem de ir para o trio composto por Cláudia Rocha, Rui Gaspar e Mário Calado.

A ternura que esta Maria Madalena dirige a Jesus impressiona em todas as cenas, mas especialmente naquela em que o observa enquanto dorme, antes de ser surpreendida por Judas.

Quanto a Rui Gaspar, que faz o papel do traidor que entrega o mestre aos seus inimigos, é difícil não ficar rendido à sua intempestiva presença no palco, sempre de um lado para o outro, interpretando com paixão um Judas ora enérgico e conflituoso, ora amargurado e desesperado.

Por fim, Mário Calado conquista o público desde a primeira aparição. A sua expressividade transmite um vendaval de emoções que sacodem a audiência do princípio ao fim do espectáculo. A sua voz forte sobrepõe-se por vezes à música, completando ainda mais a sua representação. E apesar de estar doente, entrega-se completamente em palco.

E é entre actores que não falam ou não ouvem, ou nem uma coisa nem outra, que se movem com dificuldade ou com ajuda de outros, que levamos uma lição de expressividade, de humildade e de coragem, melhores do que qualquer discurso ou palestra.

A palavra ao encenador

Do cubículo negro em frente do palco, António Martins, membro da direcção do Elo Social, dirige os actores na sua movimentação e na expressão dramática. Ao seu lado, ouvimo-lo transmitir indicações directas para o protagonista, que as reproduz automaticamente: “canta para eles, Marinho”, “estás triste, estás sozinho, estás abandonado”, “expulsa-os do templo! Vá, corre com eles!”… Mas o encenador não se limita a debitar instruções para o microfone ligado ao auricular de Mário Calado: também ele representa um papel dentro do seu cubículo, gesticulando e alterando o seu rosto consoante se alegra ou sofre com o que se passa em cena.

Ao EXPRESSO do Oriente, António Martins descreve a experiência no Coliseu como a “máxima realização do potencial do espectáculo e de todo o pessoal do Elo Social”: “chegámos, por assim dizer, ao cume da montanha!”, atira entusiasmado. “Pelas condições excepcionais desta casa, pela experiência acumulada, pela dimensão do espectáculo em si, este foi o nosso melhor Jesus Cristo Superstar, teve o melhor de nós todos, desde os actores aos funcionários, cenógrafos, guarda-roupa e por aí fora”, completa.
Quanto às famílias e aos actores, orgulho é a palavra que melhor descreve o seu estado de espírito. “Estão todos com um sentimento de satisfação enorme pelo que conseguiram e com um grande desejo de continuar e de se superar a si próprios”, conclui António Martins.

Por tudo isto, saímos do Coliseu com um emaranhado de sentimentos difíceis de explicar por palavras. Parabéns, Elo Social!