Sociedade

Equipa portuguesa vence prémio de Criatividade nos Estados Unidos

OLYMPUS DIGITAL CAMERAProfessora na Escola Profissional de Hotelaria e Turismo de Lisboa, na Freguesia de São João, Patrícia Pina foi aconselhada pela escola a participar nas Olimpíadas da Criatividade. Após se ter informado mais sobre o assunto, a professora acabou por formar uma equipa com mais quatro colegas e, mesmo sem se conhecerem, as quatro iniciaram um processo de formação e aprendizagem exaustivo, que culminou com a passagem à final internacional do concurso, nos Estados Unidos. Superando todas as expectativas, o trabalho destas professoras acabou por vencer a competição, atribuindo a Portugal a sua primeira vitória no concurso, no escalão de Adultos. Estivemos com Patrícia Pina e, em exclusivo, damos-lhe a conhecer o projecto, que pretende ser uma mais-valia para o ensino nacional.

 

Como é que tomou conhecimento das Olimpíadas da Criatividade e como surgiu a oportunidade de participar nas mesmas?

No início do ano lectivo, uma das professoras da escola falou comigo e disse-me que tinha um projecto que achava que era adequado ao meu perfil. Aconselhou-me a ver do que se tratava e acabou por me transmitir informações sobre o concurso. Este possuía uma modalidade que se chamava “Criatividade e Metodologias” e foi nesta categoria que me aconselharam a participar e a desenvolver uma actividade com a turma do 11.º ano de Organização de Eventos. Esta participação exigiu muita formação e preparação da minha parte para conseguir depois ensiná-la aos alunos. Foi um processo incrível e muito complexo, que é baseado numa metodologia.

Normalmente as pessoas têm a ideia de que a criatividade tem a ver com artes e não tem. Aqui, a ideia é ser-se criativo na criação.

 E como é que decorreu todo o processo de participação?181242_541491412554822_337953615_n

Eu acabei por concorrer com uma equipa de quatro pessoas. Concorremos na categoria de Adultos, que estava a ser realizada pela primeira vez. O grupo era composto por mim, pela Ana Maria Moura, da Escola das Olaias; pela Joana Simão, do Colégio de Guadalupe (Seixal); e pela Ana Maria Ferreira, da Escola Secundária Júlio Dinis (Ovar). Quando formámos o grupo nem nos conhecíamos. Tínhamos formação aos fins-de-semana e depois encontrávamo-nos via Skype. Basicamente, formámos uma equipa às cegas e sem saber como iríamos conseguir trabalhar. Acabámos por conseguir fazer uma prova inteira deste modo e confesso que foi um trabalho muito intenso.

 E em que é que consiste esta competição?

O que nós aprendemos é uma metodologia que nos permite trabalhar um problema como sendo um desafio pronto a ser superado. É uma metodologia de análise que implica uma grande pesquisa sobre um tema e a exploração de uma série de temáticas ligadas ao assunto. A partir daí, estabelecemos o que são os problemas e como os podemos resolver. Portanto, a criatividade aqui consiste em vermos como é que podemos transformar os problemas em desafios e encontrar soluções positivas para a resolução dos mesmos.

Em termos de metodologia, é-nos apresentado um texto, a partir do qual é necessário levantar 16 problemas. A ideia deste valor é dificultar a nossa tarefa de forma a gerar um raciocínio divergente e a obrigar-nos a pensar um bocado fora daquilo a que estamos habituados, pois se fossem só cinco ou seis problemas seria fácil. Depois, através da escrita, temos que explicar as nossas escolhas e decisões. É um processo complexo a nível gramatical, uma vez que através da escrita é necessário ligar todos os factos. Por fim, o último passo, consiste em propor soluções.

O trabalho em equipa foi muito importante. Colocámos os alunos a pensar e é brilhante ver as ideias a surgir.

Esta metodologia trabalha questões muito importantes do desenvolvimento cognitivo e dos pensamentos culturais e sociais. De tal modo que, em alguns sítios, como nos Estados Unidos, esta metodologia faz parte do programa das escolas.

 1002975_541491405888156_790887760_nEsta metodologia foi trabalhada com os alunos aqui na escola?

Sim, aqui na escola acabei por pôr à prova os testes com os alunos. Formámos seis equipas, com os alunos de Organização de Eventos, e fui coordenadora e mentora das equipas, sem sequer saber que isto iria para um ranking. Portanto, a certa altura informaram-nos que tínhamos passado para a segunda fase, e depois para terceira fase, até chegarmos à final. Ao mesmo tempo que eu estava a ser mentora e a ensinar, também eu estava a aprender mais sobre a metodologia e portanto esta parte foi também importante para que eu pudesse aprofundar o meu saber e as minhas competências em relação à mesma.

 Qual acha que é a grande mais-valia desta metodologia?

Acho que é o facto de acabar por trabalhar competências diferentes ao nível do pensamento, porque estamos habituados a pensar sempre da mesma forma e com esta metodologia recorremos ao pensamento divergente. Trabalha competências transversais a todas as áreas. Não é uma aprendizagem ao nível da escola, mas ao nível da vida e das escolhas que se fazem.  É curioso que ao aprenderem esta metodologia, os alunos, na própria vida deles, já começam a encarar as coisas não como problemas mas como potenciais mudanças. E no curso de Eventos isso nota-se muito e é muito importante, porque nesta área é difícil avançar em determinados problemas. Com esta metodologia, antecipam-se problemas e colocam-se todas as alternativas possíveis.

 Estavam à espera de virem a ser vencedoras?

O prémio foi completamente inesperado. Primeiro porque foi o primeiro ano em que foi criada a categoria de “Adultos”. A “Future Problem Solving Program” (vertente internacional das Olimpíadas da Criatividade) já vai fazer 40 anos e esta foi a primeira vez que Portugal participou com a modalidade “Adultos”. E foi engraçado porque eu nunca acreditei que éramos nós as vencedoras. Nós estávamos a ver a cerimónia e quando chamaram a nossa equipa as minhas colegas disseram “Patrícia, somos nós” e eu só pensei “não, claro que não, que disparate”. Mas era verdade e foi muito emocionante e uma sensação incrível.

É o culminar de um ano de muita intensidade a nível do aprofundamento do tema, de uma estratégia nova de trabalhar e acaba por ser um reconhecimento muito bonito. O prémio é uma medalha e um certificado de excelência, o que tem logo outro valor por ter sido entregue nos Estados Unidos, e recebemos uma placa. Mas o principal prémio é sermos reconhecidos e foi também esse o espírito que tentámos passar aos alunos.

Que aprenderam com esta participação?1002786_541746625862634_791489197_n

Acho que é uma mais-valia participar nas Olimpíadas da Criatividade porque temos centenas de pessoas a pensar num assunto que pode mudar o mundo. E é esse o privilégio de ter estado lá. O tema deste ano foi o “Estatuto Global da Mulher”, que é um tema muito complexo e que tem diversas formas de análise. Mas é incrível ver miúdos de 12, 13 e 14 anos a falarem do assunto e perceber que, com esta idade, eles já têm um pensamento de análise.

Para se perceber um bocadinho da importância deste programa, um dos projectos dos Estados Unidos mudou uma legislação na India sobre o saneamento da água. Portanto, isto tem um grande impacto.

Como professora considera que estas iniciativas são importantes para aplicar novas metodologias de ensino mais cativantes?

Com certeza. Mas mais que torná-lo cativante é o ensino dar significado à vida. Muitas vezes aprendemos coisas e não percebemos porquê. Eu também passei por isso. Lembro-me de estar na faculdade e ter que aprender estatística e coisas de embriologia e pensar “Mas para que é que eu preciso disto?”. Só dez anos depois dei significado às aprendizagens. E este projecto trabalha isso. Para que as pessoas saibam escolher e dar significado e utilidade às suas aprendizagens.

olimpiadas_shOlimpíadas da Criatividade

 As Olimpíadas de Criatividade são uma iniciativa anual promovida pelo Torrance Center (Portugal), em plena integração no programa internacional Future Problem Solving Program International, a única competição mundial de Resolução Criativa de Problemas.

Ivete Azevedo, Presidente da Direcção da Torrance Center, acredita que a mais-valia desta competição é o desenvolvimento do pensamento criativo, critico e analítico dos jovens, bem como o desenvolvimento da sua capacidade de comunicação oral e escrita. “Este é um programa educativo em que os jovens trabalham as suas competências criativas na resolução de problemas. O ponto forte do mesmo é as pessoas serem capazes de ver um problema como um desafio e superá-lo de forma criativa. Desenvolve também as relações de grupo e a abertura de pensamento”, afirma.

Comitiva Portuguesa

 Na final Internacional, estiveram presentes 48 portugueses, entre eles professores, alunos e encarregados de educação. A equipa nacional era composta por 40 jovens e 18 Mentores, de 14 concelhos do país. Estes dividiram-se em 4 equipas na categoria “Comunidade”; quatro equipas em “Casos”; quatro alunos em “escrita” e uma equipa em “Artes”.

Alunas de SucessoOLYMPUS DIGITAL CAMERA

Inês Carvalho, Ana Luísa Magalhães, Joana Marcelino e Filipa Liberato são algumas das alunas que participaram nas Olimpíadas da  Criatividade a nível nacional. Apesar do esforço que exigiu, nenhuma das alunas põe em causa a aprendizagem e a mais-valia da sua participação. “Houve imensas coisas positivas. Adquirimos uma nova aptidão para o futuro, aprendemos a lidar com novas situações e a explorar a nossa cabeça. Conhecemos partes de nós que até então desconhecíamos”, afirmam as alunas, que nunca acreditaram que fosse possível chegar tão longe.

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