Dossier

A tosquia das ovelhas

Mais de três centenas de crianças, do ensino pré-escolar e do 1.º ciclo, tiveram a oportunidade de assistir a um acontecimento raro em Lisboa mas muito comum no ambiente rural – a tosquia da ovelha. Uma prática que tende a desaparecer e que foi recordada, recentemente, na Quinta Pedagógica dos Olivais.

Com a chegada da Primavera e do bom tempo, chega também o momento de se tosquiar as ovelhas, pois, tal como as pessoas, estas também sentem calor. Ou acha que consegue aguentar vestir uma camisola de lã com um sol radiante
e uma temperatura de 30 graus à sombra? É por isso que este processo é necessário, sem contar que, para além de ser indolor, é um alívio para estes animais. O pêlo volta a crescer durante o Verão e no Inverno já têm uma nova pelagem que as protege do frio. Mais de 300 pessoas, entre adultos e alunos de diversas escolas e instituições, nomeadamente, do Jardim de Infância n.º 5 de Santa Maria dos Olivais, da Instituição Ester Janz, do colégio CEAS, Casa Pia de Lisboa e da Casa do Sagrado Coração de Jesus, de Carcavelos, ficaram fascinadas por assistir ao vivo a uma acção que, para a grande maioria, era desconhecida. As crianças aprenderam que para tosquiar uma ovelha é necessário prendê-la entre as pernas, de barriga para cima para que o animal não tenha forças para reagir. Depois, como uma máquina adequada começa-se a retirar o pêlo até que este fique completamente solto do corpo do animal. Para a jovem Carolina Freitas é importante que cortem a pelagem à ovelha pois está muito calor e “aquela lã toda não ajuda a nada, é como se tivesse um casaco grosso vestido, coitada”. João Pedro, de 6 anos, nunca tinha assistido à tosquia dos animais e ficou encantado com o processo. Também ele está convencido que assim as ovelhas vão ficar mais fresquinhas e que a lã que lhe retiraram irá ser utilizada para fazer bonitas camisolas.
Apesar do aparato e dos balidos que os animais de vez em quando lançavam, Vítor Santos, de 5 anos, não se deixou amedrontar pois acredita que a tosquia não os magoa porque pensa que é “como se estivessem a cortar o cabelo”. A amiga Simone Góis também partilha da opinião e assegura que “a ovelha só estava assustada por ter tanta gente à volta”.

Tratamento
A lã que resulta da tosquia é posteriormente tratada para ser utilizada na indústria têxtil, para fazer camisolas, meias, gorros e muito mais peças de vestuário que usamos no dia-adia. Alguns alunos participaram ainda numa actividade promovida, habitualmente, pela Quinta “Da Tosquia à cor da lã” onde puderam aprender tudo o que acontece desde que a lã é recolhida até se transformar numa peça de vestuário colorida. Primeiro ficaram a saber que é necessário lavar muito bem a lã com água quente e sabão azul e branco, depois, esta tem de ser enxaguada em cestas de verga contendo água fria e, posteriormente, é colocada ao sol para secar. Mais tarde é sovada com uma vara para ficar solta e com os dedos retiram-se os cardos, o que se designa por cramear, seguindo-se o azeitar, ou seja, colocar azeite nas pastas de lã.
Ao fim de um tempo, a lã é desembaraçada numa cardadura onde é cardada e penteada e, depois, esticada e torcida várias vezes (processo conhecido por fiação). Fazem-se meadas com um aparelho que tem o nome de sarilho, e volta-se a lavar a lã com água quente e sabão para tirar o azeite. Volta a enxaguar-se em água fria. Utilizando a dobadoira fazem-se os novelos para mais tarde serem urdidos no tear, onde irão ser fabricados os tecidos com o qual se podem fazer várias peças de vestuário, mantas, tapetes, etc.

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