Reportagem

Entrega de prémios Literários e Cidadania Cultural Estoril Sol

a Hugo Gonçalves, Dulce Gonçalves e Helder Macedo

Em cerimónia solene, o Auditório do Casino Estoril acolheu a entrega dos Prémios Literários Fernando Namora e Agustina Bessa-Luis, referentes a 2024, respectivamente, a Hugo Gonçalves e a Dulce Gonçalves, bem como o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural a Helder Macedo. Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Júri dos Prémios da Estoril Sol, presidiu a este importante evento, que contou com a presença de numerosas personalidades ligadas às Letras e às Artes.

Guilherme d’Oliveira Martins iniciou o seu discurso manifestando um profundo pesar pelo falecimento de Liberto Cruz, que integrou durante largos anos o júri dos Prémios Literários e de Cidadania Cultural da Estoril Sol. Numa contextualização das obras vencedoras, Guilherme d’Oliveira Martins referiu que “Revolução”, de Hugo Gonçalves, “constitui um relato vivo dotado de um estilo direto, fluído e comunicativo e de uma linguagem que se alia à expressão do tempo e dos seus atores sociais”. Em relação ao romance “O Processo”, de Dulce Gonçalves, “foca-se na memória histórica dos últimos anos da resistência à ditadura portuguesa, ao mesmo tempo, de projeção dos traços culturais que asseguram algumas das suas referências emblemáticas, nomeadamente as relacionadas com o fenómeno da emigração portuguesa para França. Sobretudo durante os anos 60”.

Já sobre o Prémio Vasco Graça Moura, o Presidente do Júri disse que Helder Macedo “é um ilustre poeta, romancista, ensaísta, critico e professor, Secretário de Estado da Cultura, que tem um percurso exemplar no campo da cidadania cultural. Vivendo em Moçambique desde a sua juventude, afirmou-se como uma consciência livre, considerando a liberdade como abrangendo a criação literária e artística, mas também o reconhecimento do direito dos povos à autodeterminação e independência”.

Após o momento solene da entrega dos três prémios da Estoril Sol, foi Hugo Gonçalves, vencedor do Prémio Literário Fernando Namora que usou da palavra: “o livro é um abrigo contra o ruído do mundo. Contra a algazarra da zanga e do medo, hoje disseminados nos ecrãs por milhões de anónimos — e por todos os líderes messiânicos com ambições a tiranos. O livro é uma espécie de capanga que expulsa da nossa cabeça esses inquilinos problemáticos, aos gritos nas redes sociais e nas televisões. De certa maneira – sem precisarmos de ser revolucionários – ler um livro é hoje um ato de resistência contra essa zanga e esse medo tão danosos para a liberdade e para a democracia que começámos a construir no dia 25 de Abril de 1974.

Já Dulce Gonçalves referiu que “O Processo” “representa a fusão de um tempo que transcorre dentro e fora da obra, tal como do amor que flui dentro e fora do livro. Agustina dizia que uma boa história teria de ser consagrada pelo amor. Se a pude escrever, também foi graças ao afeto que me envolveu – da minha família, dos amigos e daqueles que se assumiram como meus protagonistas. E porque a história narrada eterniza dentro de si um amor jovem, intemporal, inspirador. Parti do umbigo familiar para trilhar uma terra que, afinal, me era desconhecida. Descobri uma geração inteira, agora suspensa na ampulheta fina do seu próprio tempo, que conquistou a chave dourada da liberdade.O Processo” pretende tecer-lhes, ainda, uma homenagem e ser um compromisso com a memória. Escrever é não esquecer”.

Por sua vez, Helder Macedo distinguido com o Prémio Vasco Graça Moura, sublinhou a sua profunda admiração por todos os vencedores das anteriores edições. “O prémio que me foi dado e que mais me poderia honrar é o prémio de cidadania cultural. Creio que o exercício de cidadania tem como ponto de partida a capacidade de recusa. Os “sins” podem perdurar com mais sorte ou menos sorte, de uma maneira ou de outra. Mas, a nossa responsabilidade enquanto cidadãos é saber quando, como, e não importa com que consequências, dizer não. Recusar.”

Logo na abertura da cerimónia, Mário Assis Ferreira, em representação da Estoril Sol, referiu: A promoção da Cultura é, como o nosso histórico bem evidencia, um desígnio que nos acompanha desde há muito. Mas, é em períodos complexos como este que respiramos − onde confluem os desafios internos com as tensões políticas externas na Europa e fora dela − que a expansão do turismo, enquanto Actividade de Paz, pode ser contingente, após ter recuperado, penosamente, dos efeitos pandémicos. Neste contexto, tanto a indústria de entretenimento − e, nesta, a dos Casinos físicos – tal como a hotelaria e a restauração, terão que somar esforços para responder, com energia e criatividade às incógnitas que se perfilam no horizonte. E, também por isso, reconheço, com orgulho, que ao longo dos últimos decénios, tem sido inabalável o compromisso da Estoril Sol com a Cultura e as Artes”.

Ver mais

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Close