Sociedade

Qualidade da água em Lisboa afectada pelos incêndios?

Uma equipa de investigação da Universidade de Aveiro alertou nos últimos dias para a possibilidade de uma das maiores fontes de abastecimento de água da Área Metropolitana de Lisboa estar “seriamente comprometida”.

Segundo o alerta emitido por esta equipa, o motivo do risco prende-se com os incêndios florestais de 2017, que devastaram boa parte da bacia hidrográfica do rio Zêzere, cujas águas alimentam a barragem de Castelo de Bode.

“No verão desse ano, cerca de 30 por cento da bacia hidrográfica do rio Zêzere que alimenta a barragem de Castelo de Bode, e cuja água mata a sede a milhões de habitantes de Lisboa e arredores, foi devastada por vários incêndios, elevando assim o risco de degradação da qualidade da água por causa da rápida e descontrolada erosão dos terrenos e consequente incorporação nas águas de sedimentos e nutrientes destas
áreas ardidas”, refere a Universidade de Aveiro em comunicado.

As investigadoras da UA Diana Vieira e Marta Basso

“O aumento da concentração de sedimentos e nutrientes poderá levar ao chamado algae bloom, que corresponde a uma rápida acumulação de algas na barragem, processo vulgarmente denominado de eutrofização”, aponta Diana Vieira, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), uma das unidades de investigação da UA.

O alerta das cientistas do CESAM Diana Vieira e Marta Basso tem como base o trabalho de simulação hidrológica realizado em colaboração com Tiago Ramos e Marcos Mateus, ambos da Universidade de Lisboa. Este trabalho de previsão da qualidade da água, da erosão pluvial e do comportamento das águas subterrâneas teve como base a simulação hidrológica da bacia hidrográfica com a ferramenta SWAT (Soil Water Assessment Tool) para os quatro anos que seguiram o incêndio (2018- 2021).

“As simulações demonstraram um aumento substancial na resposta hidrológica e erosiva, assim como um aumento na concentração de nutrientes, representando um potencial risco de eutrofização, deficiência de oxigénio e redução da biodiversidade”, diz Diana Vieira.

Depois da divulgação deste alerta, a Agência Portuguesa do Ambiente assegurou esta terça-feira, dia 28 de Janeiro, que a água com origem na bacia do Zêzere e na albufeira de Castelo de Bode cumpre os “requisitos necessários” para consumo humano e referiu a adopção de medidas para minimizar os efeitos provocados pelos incêndios de 2017.

As medidas foram implementadas pela Administração da Região Hidrográfica do Tejo e Oeste (ARHTO) em colaboração com os municípios afectados. Foi promovido o levantamento das necessidades de intervenção nos recursos hídricos e o reforço da monitorização nas albufeiras do Cabril e de Castelo de Bode, além do rio Zêzere a montante (estações, frequência e parâmetros).

Segundo a APA, os resultados obtidos desde 2017 não apresentam alterações, o que comprova a qualidade da água que a Área Metropolitana de Lisboa bebe.

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