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Alunos de idade maior fazem exercício

Há cerca de um ano que um grupo de cem idosos faz exercício no Centro de Saúde dos Olivais, no âmbito do projecto Idade Maior. Um estudo, efectuado ao grupo durante três meses, revelou grandes melhorias nas capacidade físicas, na saúde e bem-estar dos participantes.

Não há limites na sala do movimento. Tudo o que lhes é pedido é cumprido e sempre com um sorriso no rosto. Os cabelos brancos de muitos participantes não escondem a idade, mas nem tão pouco é essa a intenção. Exibir os anos que já lá vão é um triunfo, porque não é todos os dias que se vêem jovens seniores a praticar exercício daquela maneira, tendo em conta que a média de idades é 73 anos. Deitam-se no chão, em cima da bola de exercício, levantam os braços, as pernas, mexem-se com uma destreza de fazer inveja. Tudo isto, graças à criação, há cerca de um ano, do projecto Idade Maior.
A ideia deste projecto-piloto é fazer com que, através da ginástica, os idosos possam enfrentar a velhice com mais energia. A iniciativa foi criada pelos laboratórios Pfizer, sendo a Faculdade de Motricidade Humana a consultora técnica do projecto.
O Centro de Saúde dos Olivais tornou-se um parceiro e assim os seus utentes ganharam uma nova vitalidade. Todos os alunos destacam melhorias na qualidade de vida, após um ano de exercício. Anunciação Gomes, 72 anos, começou a frequentar o Centro de Saúde dos Olivais, duas vezes por semana, no início do ano passado. Neste momento já não dispensa as aulas: “Comecei a fazer fisioterapia tinha 40 anos e nunca senti grandes melhorias. Hoje é bem diferente. Tenho mais mobilidade, tem sido uma maravilha. Não conseguia dormir, agora durmo a noite toda. Ainda ontem andei a apanhar ervilhas e favas”. Glória Colaço, 66 anos, ganhou mais mobilidade, porque até mesmo para subir as escadas tinha dificuldade: “Parava a meio e subia agarrada ao corrimão. Sinto-me muito melhor”. Maria da Conceição Dias começou a frequentar o centro de saúde dos Olivais também no início do ano passado. Neste momento, já não passa sem as aulas: “Na cama não conseguia virar-me nem para a direita, nem para a esquerda, doíam-me muito os ombros. Falei com o meu médico, ele mandou-me para aqui e fez-me muito bem”. Maria de Lurdes Lopes quase que tinha perdido a vontade de viver. Ganhou um novo ânimo nas aulas de ginástica. “Chorava muito, não me sentia nada bem. Agora voltei a ser o que era. Uma pessoa alegre, cheia de coragem. Estas aulas têm sido um milagre e muito graças à fisiotepapeuta”.
Manuel Bragança, o único homem daquela classe, já era um desportista antes de frequentar as aulas e embora ainda dê umas braçadas nas aulas de natação, “gosto mais de vir para aqui. Estou muito bem acompanhado e sinto-me com mais energia”.

A importância de controlar factores de risco

Cada grupo é composto por dez alunos orientados pela fisioterapeuta Cândida Marques. Antes de iniciarem as aulas, os alunos passam por uma avaliação clínica obrigatória, feita pelo médico que depois os encaminha para a ginástica. Este rastreio é indispensável para se identificarem factores de risco, contra-indicações ou limitações. Conforme explica Cândida Marques após esta avaliação os exercícios são adequados às capacidades dos utentes. Para além da actividade física, a socialização é outro ponto chave: “Aqui as pessoas fazem amizades, interajudam-se e convivem bastante”. Apesar dos exercícios simples, a idade impõe limites ao corpo, que as alunas tentam superar.
A fisioterapeuta destaca a importância da ginástica nesta idade para controlar factores de risco relativamente a quedas, uma vez que desenvolvem os músculos das pernas e, acima de tudo, combatem o sedentarismo. “Muitos deles estavam bastante limitados nas suas actividades de vida diária e agora já as conseguem executar com bastante facilidade”. Para além das aulas, a aposta da fisioterapeuta é também nas aulas teóricas, a nível de prevenção: “Tento promover também algumas aulas de esclarecimento, a nível da alimentação, das quedas, chamando-os a atenção para comportamentos de risco que devem evitar”.

Nos primeiros três meses do projecto, uma equipa de técnicos avaliou o impacto do exercício na vida destes alunos de idade maior. Foi tida em conta a avaliação da aptidão física e funcional dos utentes antes e após a participação nas sessões de actividade física. Foram também realizadas avaliações da composição corporal, nomeadamente da massa gorda, massa magra e densidade mineral óssea.
Os resultados são positivos, como refere Carlos Macedo, director dos Assuntos Governamentais e Públicos da Pfizer: “Há alterações substantivas na resistência cardiovascular e de força muscular, tendo os idosos maior flexibilidade e maior autonomia de movimentos e do próprio indivíduo”.
Os utentes conseguem agora participar em determinadas tarefas de forma correcta e no menor tempo possível. Segundo o responsável, outro dos parâmetros em estudo foi a pressão arterial e “de uma forma global, os valores de pressão arterial sistólica e diastólica apresentam reduções importantes”. O projecto-piloto de aulas de ginástica para idosos existe apenas em dois centros de saúde do país, no Centro de Saúde dos Olivais e em Águas Santas, no Porto. Os responsáveis pela iniciativa querem multiplicá-lo para que mais idosos possam usufruir dos benefícios da actividade física.

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