Sociedade

Entrevista ao Presidente do Oriental

resized_jose-nabais-5O EXPRESSO do Oriente entrevistou José Fernando Nabais, presidente da Direcção do Clube Oriental de Lisboa (COL). Falámos do passado, do presente e do futuro, dando especial atenção ao homem que segue ao leme há 15 anos consecutivos. Nasceu “orientalista”, em plena Rua de Marvila, é um “louco apaixonado” pelo clube, e quer cumprir a vocação territorial que dá nome ao clube: conquistar como adeptos os residentes na zona oriental da cidade.

 

Em primeiro lugar, falemos sobre esta recente efeméride. São 70 anos de vida, 105 anos de história. Quer explicar a particularidade a quem não a conhece?

É uma questão importante. Vários clubes formaram-se a partir de outros clubes já existentes e adoptaram a data de fundação do clube mais antigo; não foi isso que os dirigentes que em 1946 fundaram o Clube Oriental de Lisboa entenderam. Daí os 70 anos de vida. O Oriental nasce em 1946 mas a sua história começa no dia em que o clube mais antigo se fundou, que foi o Chelas, algures no mês de Novembro de 1911. Mais tarde, em 1918, nasceu o Marvilense e em 1920 o Grupo Desportivo da Sociedade Nacional de Fósforos, que era uma fábrica aqui na zona. Foi a sua secção de futebol que veio alimentar a equipa principal do Oriental, por ser talvez a mais forte de entre os três clubes. A gente destes três clubes originais merece a nossa homenagem, por fazer parte da nossa história. O Chelas, o Fósforos e o Marvilense são a razão de ser deste chavão que diz que a nossa história começa anterior à data da nossa fundação.

O COL realizou homenagens importantes neste aniversário. Qual é a importância se distinguir o mérito desportivo de ex-jogadores e a dedicação dos associados mais antigos?

Costumamos fazer uma sessão solene nos anos pares, de dois em dois anos, em que entregamos emblemas aos sócios com 25 e 50 anos de casa. Depois agraciamos pessoas que nos ajudaram ou que se distinguiram enquanto associados ou dirigentes do clube, ou assinalamos o falecimento de associados fundadores. Por circunstâncias naturais da vida, as pessoas que fundaram o clube estão na casa dos 80 anos, portanto é algo que acontece muito nos dias que correm. Homenageámos de forma especial três jogadores que felizmente ainda se encontram entre nós, numa mensagem de futuro: Rogério Landes de Carvalho, José Roçado e Mário Luz. Fizeram parte dos primórdios, criados nos clubes que deram origem ao Oriental. Aliás, o pai do Rogério foi dirigente e fundador do Chelas. Quisemos simbolizar que devemos cada vez mais privilegiar a formação e dar um sinal às gerações vindouras. Hoje em dia é difícil ter um jogador que começa nos infantis e faz carreira nos seniores, porque ou as exigências são demasiadas para a sua valia, ou ele é muito valioso e é resgatado por clubes de outra craveira. Mas somos e queremos continuar a ser um clube formador.

O momento também é especial, porque esta entrevista acontece no dia após a apresentação do novo treinador, António Pereira…

O clube é eclético, com 14 ou 15 modalidades, que movimentam muitos atletas, muitos jovens e muitas pessoas à sua volta. Mas temos de reconhecer que a principal actividade é o futebol profissional. E o objectivo sempre foi que o Oriental fosse um grande clube. Prova disso é que andámos vários anos pela primeira divisão nacional. Todo o nosso empenho tem sido no intuito de atingir o patamar onde já estivemos, para fazer jus à nossa história. A ambição mantém-se. Temos vindo a dar passos muito importantes na consolidação desse processo e nas últimas duas épocas estivemos na segunda liga profissional, patamar que não atingíamos há 25 anos. Tivemos o maior êxito desportivo dos últimos 40 anos, quando pela última vez conseguimos estar na primeira divisão. Fizemos uma longa travessia do deserto e queremos manter-nos no patamar mais elevado. Sabemos, no entanto, que não nos queremos manter a qualquer custo. A descida da II Liga mostra que preferimos ser bestas do que bestiais, hipotecando o futuro do clube. Isso nós não fazemos. Temos parcos recursos para nos manter na II Divisão, mas temos uma solidez financeira que nos dá estabilidade e condições para dizer que vamos lutar para voltar o mais breve possível ao patamar superior. O futebol não é uma ciência exacta. Apostámos num projecto a longo prazo que não deu certo, com o anterior treinador, um jovem que conhecíamos e em quem acreditávamos. No futebol as pessoas são reféns dos resultados e tivemos de arrepiar caminho e correr atrás do prejuízo, porque não podemos ter um ano perdido. Almejamos uma subida e temos de lutar por ela num campeonato muito difícil, a duas fases, em que temos obrigatoriamente de ficar na metade de cima.

Lisboa é uma cidade dominada por três grandes clubes, mas com espaço para outros de menor dimensão. Não lhe parece? Qual é o lugar do Oriental, especialmente tendo em conta a população da zona oriental da cidade?

Isto tem muito a ver com a história. Se enquanto estudante tinha uma disciplina favorita, era a História. O Oriental tem de fazer jus ao seu passado. Não é certamente por acaso que temos no nosso nome a designação de “Oriental”! As pessoas que fundaram o clube queriam que este fosse o clube da zona oriental de Lisboa, numa altura em que existiam essencialmente duas freguesias nesta zona da cidade: o Beato e os Olivais. Temos obrigação de tentar expandir a nossa zona de influência nesta parte da cidade. Não se trata, evidentemente, de exercer uma posição hegemónica sobre outros clubes que existam nas freguesias orientais, mas de crescer sustentadamente, por exemplo criando pólos de desenvolvimento noutras freguesias. A título de exemplo, temos realizado um evento anual de grande expressão, o Lisboa Triathlon, no Parque das Nações. Se recriarmos a nossa secção náutica, também será ali que assentaremos arraiais.

Como descreve a sua relação com o clube? É uma paixão? Sabemos que começou desde muito cedo…

A minha relação com o Oriental não só é de paixão como por vezes é de loucura. Enquanto jovem, nunca sonhei que viesse a ser presidente do clube, nem que viesse a ocupar este cargo 15 anos seguidos. Não nasci na maternidade, nasci na Rua de Marvila, número 49, no coração do Oriental. O meu pai, que já partiu há três anos, grande orientalista, é um dos três únicos casos de falecidos com as quotas de sócio em dia. Ele teve um pequeno lapso, quase imperdoável, perdoe-me a expressão, que foi não me tornar sócio no dia em que nasci, algo que fiz com os meus dois filhos. Sou sócio desde os 12 anos, por iniciativa própria, que tive de pedir à minha mãe que me desse dinheiro para pagar as quotas, há 52 anos. Sempre acompanhei o clube, desde miúdo, para todo o lado. Quando vim ajudar fui ficando e olhe, estou cá. É uma relação de paixão, mas não é nem mais nem menos do que a de grande parte dos associados do Oriental. Isto é um clube de apaixonados. A paixão tolda-nos por vezes os pensamentos, para o bem e para o mal, a dar razão à ode que diz que “o amor é louco”. Tenho-me embrenhado nas questões, nos problemas e nas dificuldades do clube.

Como o processo que diz respeito às infra-estruturas?

Sim. Estamos a concluir um processo muito importante de negociação com a Câmara Municipal de Lisboa para o desenvolvimento das nossas infra-estruturas. Estamos na fase final da escritura do direito de superfície dos terrenos onde vamos implantar um segundo campo, para expandir o nosso complexo desportivo. É um passo gigante no nosso crescimento! Empenhei-me pessoalmente a fundo neste processo e tenho negligenciado outras dimensões da minha vida. As pessoas dizem-me que só se vive uma vez, mas a minha vida também é o Oriental. Não estou em início de carreira, mas quero deixar a minha marca e sair satisfeito com o trabalho realizado.

No dia em que sair do clube não vai deixar de ser um adepto sempre presente na primeira linha de apoio à equipa?

Claro que não. Nasci do Oriental, morrerei do Oriental. O percurso traz-nos sempre engulhos, ficamos por vezes magoados com uma ou outra pessoa, como porventura terei magoado este ou aquele… Mas nunca confundirei isso com o Oriental. Está acima disso tudo!

É possível ser-se de um clube de pequena/média dimensão e ter um grande no coração ou isso é uma forma de traição?

Claro que é possível. Mesmo os grandes orientalistas têm uma costela de um clube grande, por assim dizer. Em Portugal ou se é do Benfica, ou do Sporting, ou do Porto. Temos de tudo no Oriental.

E há um rival claro do Clube Oriental de Lisboa?

Na minha concepção, não há. Nos tempos áureos do Oriental, o clube com quem mais rivalizávamos era o Atlético, sem menosprezo para outros clubes da zona, que eram menores não na sua dignidade mas na sua expressão futebolística. Mas note que o Atlético apadrinhou o Oriental na sua fusão, portanto sempre foi um clube amigo. Eu sempre tive, de resto, uma relação de amizade com os dirigentes do Atlético e gosto do próprio clube. Mas claro, dentro do campo não entra nada disso, queremos ganhar a todos e o mesmo acontece do outro lado. O Olivais e Moscavide também evoluiu até ao nosso patamar e depois um pouco mais acima, mas a rivalidade não tem nada a ver com a proporção que opõe o Sporting ao Benfica, por exemplo.

Quantos associados tem o clube?

Grosso modo, 2000 associados inscritos e pagantes, embora ascenda quase aos 3000 na sua contagem. Acrescem os cerca de 2500 utilizadores da Piscina Municipal do Vale Fundão, que circulam com o cartão de utente da Piscina do Oriental no bolso.

Sabe de cor o seu número de associado, claro…

Sou o sócio n.º 126. Mas se houver reformulação de quotas, já fiz as contas e passo a ser o n.º 81!

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