Reportagem

Casa de São Vicente

resized_Casa de São Vicente (1) resized_Casa de São Vicente (9) resized_Casa de São Vicente (18) resized_Casa de São Vicente (29) resized_Casa de São Vicente (37) resized_Casa de São Vicente (39) Fomos visitar a Casa de São Vicente, em Marvila, uma instituição dedicada às pessoas portadoras de deficiência.

A história desta casa começa em 1940, quando a fundadora, Maria Antónia de Mello Breyner, condessa de Mafra, a instala num pequeno apartamento na zona conhecida por Rua do Sol à Graça.

D. Maria Antónia, que cumpria as funções de assistente social na prisão das Mónicas, sentia que havia uma necessidade urgente de reinserção social das reclusas. Foi por isso que resolveu criar um atelier de tapetes de Arraiolos para que as ex-reclusas pudessem trabalhar, sendo o produto vendido e revertendo o lucro a favor da sua reinserção social.

Depressa o apartamento de tornou pequeno demais. Havia de encontrar novo abrigo num palacete com estrutura original do século XVII, situado na Quinta das Veigas, que na altura estava em ruínas e que foi sendo reconstruído e adaptado para receber as mulheres e os respectivos filhos. O nome, esse, conservou a antiga origem da instituição: Casa de São Vicente.

Com a chegada da Revolução dos Cravos, surgiu uma reformulação e a Casa passou a operar na área da deficiência, até porque havia muitos deficientes entre os filhos das ex-reclusas.

Quem nos conta tudo isto é Cristina Gomes, directora técnica da IPSS, antes de nos guiar pelos corredores e salas da instituição, para conhecermos os utentes e observá-los em acção. São todos portadores de deficiência, sendo a mais comum a deficiência mental (apenas entre a deficiência ligeira e a grave; não existem na Casa de São Vicente deficientes profundos).

90 utentes apoiados

“Trabalhamos com duas respostas sociais: o lar residencial feminino e um CAO – Centro de Actividades Ocupacionais. O CAO tem duas vertentes: um estritamente ocupacional e um socialmente útil, com vários ateliers – encadernação, empalhamento, artesanato e artes decorativas, costura, lavandaria”, explica a directora. No lar estão 25 utentes; no CAO estão os mesmos 25, a que se somam outros 65, para um total de 90.

Os trabalhos são depois escoados na comunidade, como é exemplo o caso dos tapetes de Arraiolos encomendados por diversos clientes. Pudemos observar in loco os trabalhos de reparação destes famosos tapetes, mas também os serviços de lavandaria e engomadoria, da costura, da encadernação e das artes decorativas, em que reinou sempre a boa disposição. Onde os utentes deram largas à expressividade foi na aula de música, aproveitando múltiplos instrumentos de percussão, com a ajuda de João Alves, conhecido guitarrista dos Peste & Sida.

Impressionou-nos o trabalho de dedicação de Edegenor, um simpático amigo que, enquanto segura a mangueira, nos mostra a forma como foi colocando pedras no pequeno morro junto ao campo relvado.

“Cada vez menos olhados de forma diferente”

“Trabalho aqui há quase 25 anos. Trabalhei na Segurança Social e achei esse trabalho muito mais burocrático”, confessa Cristina Gomes. “Aqui com estes jovens aprendo imenso, gosto muito de aqui estar. Trabalhar com eles é muito gratificante. São muitas histórias… por vezes aparecem jovens muito fechados, muito carentes de afectos; passado algum tempo vemos o seu crescimento, o contacto que começam a ter com outras pessoas, a transformação que acontece. É giríssimo perceber esta evolução e ver como o aproximarmo-nos de alguns jovens faz com que eles desabrochem e se revelem. O estímulo continuado é muito importante na sua vida!”.

Questionada sobre a evolução da discriminação para com os deficientes, a directora considera que hoje em dia se vê com outros olhos a deficiência: “As novas gerações começam a perceber que faz falta ajudar e amparar as pessoas que precisam de nós. Os deficientes são cada vez menos olhados de forma diferente. Antes havia pessoas que nem sequer queriam aproximar-se muito. Hoje em dia saímos e as pessoas falam com eles, comunicam, querem conhecer. As instituições, de um modo geral, estão a fazer um óptimo trabalho, mesmo com falta de recursos”.

Depois dos arraiais de Junho, porque as actividades na Casa de São Vicente também se fazem de festas, passeios, e jogos lúdicos, chegou o mês da praia e aproxima-se o da colónia de férias, em Agosto. Boas férias, amigos!

 

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