Refood chega aos Olivais

O dia 25 de Outubro marcou a inauguração oficial do sexto núcleo do Projecto Refood na cidade de Lisboa, desta vez na Freguesia de Olivais.

Sónia Rodrigues e Diana Resende, responsáveis pelo novo núcleo Refood, não cabiam em si de contentes. A inauguração oficial foi o culminar de um trabalho intenso de meses de preparação, e ao mesmo tempo representou o início de um novo ciclo não menos exigente. Uma equipa pujante, bem-disposta e, acima de tudo, cheia de vontade de trabalhar pode agora usufruir de um espaço remodelado e plenamente adequado para o desempenho das funções que este tipo de assistência exige.

Comecemos pelo princípio. Tudo começou em Abril de 2013, com a reunião alargada que Hunter Halder, o mentor do Projecto Refood, organizou para todas as freguesias lisboetas. Estas reuniões, que se têm vindo a repetir noutras cidades do país, chamam-se “sementeiras”. “Éramos três olivalenses nessa reunião sementeira e decidimos abraçar o projecto e trazê-lo para os Olivais”, conta Sónia Rodrigues, consultora, 38 anos. Dois meses depois, em Junho, decorreu a primeira reunião com a comunidade olivalense, em que participaram cerca de 80 pessoas, para divulgação e angariação de gestores e de voluntários. “Desde então foi necessário um árduo trabalho para conseguir este espaço e para angariar pessoas e mantê-las connosco no projecto”, confessa a responsável.

Um crescimento gradual

“Um dos principais desafios foi envolver toda a comunidade. Esta é uma freguesia extensa e tivemos de fazer chegar a mensagem a todas as empresas, instituições, restaurantes… só graças a esta equipa muito trabalhadora conseguimos fazê-lo”, aponta Diana Resende, professora do primeiro ciclo, 33 anos. “Ainda não terminámos esse trabalho mas está a correr muito bem”, conclui.

É verdade que o trabalho de distribuição de alimentos já tinha começado antes de abrir o espaço situado na Avenida Cidade Lourenço Marques, praceta B, desde Julho deste ano, com a recolha de pão e bolos nos estabelecimentos da freguesia e a distribuição por instituições locais. Mas a mais recente conquista vai permitir começar a recolher as sobras alimentares dos restaurantes, supermercados e afins, fazer o empacotamento no núcleo e distribui-las directamente às famílias carenciadas, que já estão sinalizadas.

“Já esta semana vamos distribuir pão, bolos, frutas e legumes e queremos começar o mais depressa possível a distribuir refeições”, informam as responsáveis. “Temos um grande apoio das instituições da freguesia, como a Santa Casa, as paróquias, as Vicentinas da Encarnação… Estas instituições fazem-nos chegar a informação das famílias carenciadas e a partir daí vamos integrando gradualmente mais famílias”. Perguntamos pelos números. “Começámos com 10 famílias, que abrangem cerca de 30 pessoas, e temos outras tantas à espera, que a partir de agora vão poder ser integradas”. Quanto aos voluntários, rondam para já os 150, inscritos até à data de abertura, mas o número ainda não incluía os que se inscreveram durante e depois da inauguração, nem aqueles que trabalham pro bono nas empresas parceiras, ou as pessoas que passam a palavra e conseguem donativos.

Principais necessidades

Nesta fase, o núcleo Refood Olivais precisa essencialmente de voluntários (todos os que possa angariar) e alguns equipamentos. “Já temos frigoríficos em número suficiente mas ainda precisamos de arcas refrigeradoras, de uma máquina de lavar loiça industrial e algum apoio financeiro para pagarmos as despesas mensais”, enumeram as responsáveis do núcleo.

Mas nem essas carências abalam a boa disposição dos voluntários. “Sentimo-nos muito felizes. Este não foi um percurso fácil, dependemos muito da boa vontade e empenho das pessoas envolvidas, mas sentimo-nos muito agradecidas por toda a envolvência e boa energia que se conseguiu criar em torno do projecto”, afirma Sónia Rodrigues. “Já ouvimos comentários das pessoas que dizem que o espaço está muito bonito e bem conseguido”, acrescenta Diana Resende.

André Maurício, 17 anos, é um dos voluntários do Refood Olivais, sobre quem recai a função de gestor da sexta-feira (os núcleos Refood têm geralmente um ou dois gestores por cada dia da semana). Ao EXPRESSO do Oriente, André descreve o Refood como “um projecto inovador que vale muito a pena”. “Não é só alimentar os outros mas também eliminar o desperdício, uma espécie de dois em um”. Questionado sobre o que retira deste envolvimento, André Maurício responde: “utilizando a expressão de uma voluntária de cá, chegamos cansados e saímos revigorados. Estamos em contacto com pessoas mais jovens, pessoas mais velhas, estamos na conversa… ganhamos em conhecimento e em realização pessoal”. Depois de nos explicar que é o responsável pelo turno das 18h30 às 23h45 das sextas-feiras, mas que acumula todo o trabalho de gestor de pasta que é feito noutro horário, e que envolve contactos, registo de informação, etc, confessa com um sorriso: “estou muito entusiasmado!”.

Junta de Freguesia diz “presente”

Três vogais da Junta de Freguesia de Olivais representaram a autarquia local na efeméride. Em representação da Presidente Rute Lima, Anabela Silva dirigiu algumas palavras aos presentes, destacando “a alegria de todo o Executivo da Junta neste dia tão especial”. A vogal da Educação explica ao nosso Jornal que “a JF Olivais apoiou a vinda do Projecto Refood desde o início, ainda em 2013. O espaço que hoje é a sede do núcleo era da Câmara, passou depois para a JFO no âmbito da transferência de competências, que por sua vez o cedeu ao Refood”. Mas os apoios não se ficaram por aqui: “em termos financeiros também ajudámos com dinheiro para as obras da sede. Foi preciso resolver um problema de infiltrações e outros menores”. Sobre o projecto em si, Anabela Silva reconhece que “é importante para a comunidade olivalense, uma ideia muito boa, com um conceito interessante e que envolve os comerciantes e os fornecedores, por um lado, e os voluntários, por outro”.

Cátia Rosas, vogal do Ambiente e Espaços Verdes da JFO, acrescenta que a autarquia está a tentar desenvolver um projecto em parceria com o Refood Olivais que envolve a entrega dos géneros alimentares utilizando a bicicleta como meio de transporte, para concretizar em a partir de 2015. “Esta não foi uma parceria que acabou, é para continuar”, remata a vogal.